sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal II

Na crônica anterior eu enveredei para um tom político que não era minha intenção inicial, mas foi aflorando durante a escrita e eu deixei fluir, mas o que eu queria mesmo era dizer como essa data tem me afetado de modo estranho ultimamente.
Quando eu era criança, o Natal era um dia esperado com ansiedade, eu perturbava minha mãe para saber se já era o dia do Papai Noel, queria tirar foto com o bom velhinho, comprava gorrinho e tudo! Me deliciava com os desenhos animados temáticos do Zé Colméia, Pica Pau, Tom & Jerry, Pantera Cor-de-Rosa, Mickey & Donald, Os Flintstones, etc. Assistia aos filmes na sessão da tarde e ficava torcendo para chegar logo o dia 24 de dezembro, me perguntando por que aqui não nevava como nos filmes.
Já na adolescência, depois de algumas perdas de pessoas muito importantes na minha vida, como meu pai, o Natal foi perdendo um pouco do sabor, do encanto... Passei a comemorar a data longe do RJ. Fiz novas amizades, me acostumei com muita gente ao meu redor e voltei a curtir as festas de final de ano. Minhas energias se voltavam para os preparativos da viagem, para a compra de presentes para amigos e familiares e assim fui resgatando a felicidade e o espírito natalino.
De uns anos pra cá a antiga melancolia tem recuperado seu espaço perdido, pois tenho sofrido, ano após ano, decepções amorosas que, não sei por qual motivo, escolhem o fim do ano para dar o golpe de misericórdia. Sei, sei que revezes amorosos acontecem com todo mundo, a todo minuto no planeta, eu não sou a única, mas convenhamos que na época do Natal parece até perseguição dos deuses.
Esse ano então foi de lascar! Depois de me desvencilhar de um sentimento neurótico e sem futuro algum, me envolvi com um homem que eu já conhecia há algum tempo e que eu achava (e ainda acho) maravilhoso. Por ele ter dez anos a mais do que eu, pensei que finalmente havia encontrado um relacionamento maduro; parecia promissor, apesar de ele estar enfrentando uma separação traumática. Tudo bem, podem me chamar de idiota com i maiúsculo, podem dizer que até cego poderia ver que isso não ia dar certo!!!
Quem me conhece bem sabe que eu não sou mulher de ficar sentada esperando que o destino se encarregue de tudo e que tomo a iniciativa se quero alguém. Como já o conhecia há muitos anos, não vi problema em dar o primeiro passo, mesmo porque ele é muito tímido. É claro que eu não tomaria nenhuma atitude se ele não deixasse pistas indicando que também estava interessado: frases picantes, toques mais prolongados, abraços mais apertados, tons confidenciais... até o número do celular ele liberou. Se isso não sinalizar um mínimo de interesse, eu não sei mais o que sinaliza! Trocamos mensagens carinhosas, saímos, nos falávamos todos os dias e justamente quando eu já estava atingindo um nível de felicidade admirável com tanta atenção e desejo que iria culminar com a alegria do Natal, eis que um raio se abate dos céus sobre mim e incinera tudo até não restar mais do que cinzas! Pronto, lá se foi meu espírito natalino pelo ralo, pois eu duvido que qualquer mulher no meu lugar não se deixasse abater por essa brincadeira de mau gosto de Eros.
E aqui estou eu, em pleno dia 25, sentada em frente ao computador, escrevendo minhas mágoas, tentando iniciar uma sessão de análise virtual antes de partir definitivamente para o divã de um analista em 2010, deprimida, mal humorada, sem a menor vontade de me deixar envolver pelo amor que a data suscita, achando que o mundo é uma droga, que Deus me odeia, me entupindo de panetone com sorvete e afogando a tristeza num prato de rabanadas.

Natal I


Bom, cá estamos nós em pleno Ho-ho-ho's Day! É Natal, o dia do nascimento de Cristo, uma data especial onde refletimos sobre nossas ações ao longo do ano, fazemos uma auto-análise para ver se fomos suficientemente humanos, lembramos de pessoas queridas que estão longe ou que, infelizmente, não estão mais entre nós. Com tudo isso é impossível não ficar melancólico.


Acho o Natal lindo quando o vejo através da TV. NY é fantástica com todas aquelas luzes e decorações extasiantes, sem contar com a árvore do Rockfeller Center e a vitrine da Macy's, dá vontade de ficar preso na tela para congelar esse "clima"; a Champs Elysèes toda iluminadinha... Aí a gente sai e olha as ruas do Rio de Janeiro e se desanima, pois a própria cidade se encarrega disso! Gente, tirando a árvore de Natal da Lagoa, que é um oferecimento de uma empresa privada, e algumas poucas fachadas de bancos e shopping centers, não há mais nada para ser visto. Ou as pessoas estão ficando "pão duras", ou o espírito natalino foi alvejado por alguma bala perdida, porque não há mais pisca-piscas nas varandas e janelas das casas e apartamentos. Pelo menos no Centro e na Zona Sul. Para não dizerem que estou sendo muito dura, em alguns prédios da Lagoa, da Vieira Souto e de outras áreas nobilíssimas, ainda é possível ver belas decorações, mas o quê aconteceu com as demais residências.


A Prefeitura passa o ano inteiro correndo atrás de camelô, dando choque de ordem nas praias, armando para extorquir um pouco mais a população com uma cretina taxa de iluminação pública e nem ao menos se digna a enfeitar a cidade!!! Tudo bem que não dá pra decorar cada cantinho de cada bairro, mas pelo menos os pontos mais visitados pelos turistas e também pelos cariocas. Imaginem se a Candelária estivesse iluminada por várias microlâmpadas, as árvores da Enseada de Botafogo, o bondinho do Pão de Açúcar ou o Cristo Redentor, a praça N.S. da Paz, o Maracanã com um gigantesco Papai Noel, o canteiro central da Av. Atlântica com luzeszinhas piscantes? Tá ficando mais bonito? Será que nosso edil não poderia estudar um programa de incentivo à decoração das residências?


Moro em um bairro tradicionalíssimo da Zona Sul do Rio e aqui dá até depressão nessa época, parece que você tá passando o Natal num mausoléu; acho até que o S. J. Batista é mais animado! Todos se fecham dentro de seus apartamentos e comemoram egoísticamente com suas famílias e amigos; não se soltam fogos, não se ouve Noite Feliz nem Jingle Bells, só o alarme de algum carro atingido por um bêbado deprimido pela data. Por isso, ontem à noite abri a janela , aumentei o som da TV e botei a vizinhança para ouvir o especial de Natal da Xuxa (que até que enfim fez um especial que preste!).


domingo, 13 de dezembro de 2009

Caindo das nuvens

Conhecem aquele ditado: "Alegria de pobre dura pouco"? Pois é, amigas, a realidade confirma a sabedoria popular e no meu caso, então, isso parece uma maldição! O pior é que eu nem posso acusar o meu famoso "dedo podre", mundialmente conhecido!!!
Quando eu finalmente achei que tinha encontrado um príncipe, puff, acabou! E eu não vou ser cretina a ponto de destruir sua imagem só porque ele desistiu da nossa história; continuo dizendo que ele é um príncipe sim! Lindo, inteligente, carinhoso, sensível, charmoso, sexy, adoravelmente tímido, mas infelizmente está sofrendo de insegurança aguda. Sei que isso é uma fase difícil que eu credito ao momento atormentado pelo qual está passando. Com tanto terrorismo é quase impossível entregar-se à alguém.
Alguns dos leitores e leitoras dirão que eu sou uma rematada idiota porque ainda cubro esse homem de elogios, mas eu não consigo vê-lo com outros olhos. Os que me conhecem bem sabem que essa é a minha natureza. Eu sou justa: quando o cara é cafajeste, eu detono; mas esse é maravilhoso, apesar da dor que está me causando.
Não vou entrar em detalhes sobre o que aconteceu, mas vou dizer que espero que tudo volte a ser como antes. Caí das nuvens, porém não quebrei minhas asas e não desisti desse amor!
Tenho certeza que você é minha alma-gêmea, viu?
Não, meu amado, eu não exclui sua poesia, apenas a desloquei para não ficar incongruente com a minha dor...Mas ela continua aqui como símbolo da esperança que teima em residir no meu peito.

domingo, 29 de novembro de 2009

A Libertina (continuação)


Com todo o cuidado para não machucar, Paola retirou o pênis, agora adormecido, de dentro de sua vagina e caminhou, nua e ainda com as pernas bambas, em direção ao rack onde guardava sua câmera fotográfica. Ao virar-se, pôde notar a tensão estampando-se no rosto de Caio e disse:
— Amor, você tem certeza que quer essa mudança?
— Cl-claro.
— Olha, uma mudança desse calibre precisa vir da sua vontade e não de uma necessidade de momento. Você tem que querer passar por tudo isso, não dá pra fingir que vai mudar. Pode ser um processo muito doloroso, especialmente para você.
— Paola, eu quero! Você é assim, então eu também posso ser...
— Você tem razão: eu sou assim, mas eu não nasci assim. Foi um aprendizado que eu iniciei ainda muito jovem. O ser totalmente livre de amarras sexuais não aconteceu do dia para a noite; foi difícil, eu sofri no início, chorei muito quando me obrigava a fazer algo que me violentava, mas ao longo dos anos minha mente foi se abrindo. Você também vai sofrer, você também vai chorar...
— Foda-se! Já disse que eu quero isso! Você não vai utilizar essa minha fraqueza como desculpa para se livrar de mim, ok?
— Ok. A motivação está totalmente equivocada, mas “sua cabeça, seu mestre”... – respondeu resignada. – Vamos começar pelas fotos, então.
— O que eu tenho que fazer?
— Feche os olhos e imagine que você está querendo me deixar excitada, me mostre como você é gostoso; como seu sexo é fabuloso, como ele fica apetitoso quando você se masturba e me ofereça ele.
Caio obedeceu, mas não sem algum constrangimento. Começou a acariciar seu pau adormecido com um certo pudor e delicadeza, mas à medida que ia ficando excitado, seus movimentos ficavam mais vigorosos. O corpo escorregou um pouco no sofá e ele abriu as pernas para exibir melhor a piroca para a lente de Paola, que fotografava freneticamente. Suavemente disse:
— Amor, com a outra mão acaricie seu escroto e não pare até gozar...quero fotografar seu leite saindo do seu pau e escorrendo por ele.
A situação atingiu o clímax quando o sêmen jorrou do pênis de Caio, que gemia de prazer, e acertou a lente da câmera que clicava um close do membro. Paola não pode mais aguentar, largou a máquina sobre a mesa de centro e colou seu corpo ao dele. Beijou-o da cabeça aos pés, cheia de ternura; envolveu-o em seus braços e ficaram assim, quietos, ouvindo a respiração um do outro, até adormecerem.
Acordaram bem-dispostos e alegres. Tomaram um banho. Paola, ainda com o corpo úmido, foi para a cozinha fazer o café, enquanto Caio fazia a barba. Ainda sentiam a volúpia da noite passada e, como andavam nus pela casa, fizeram amor de pé, encostados na parede do corredor. Com muita relutância vestiram suas roupas e Paola foi para a agência. Caio, por ser dentista e ter consultório próprio, tinha uma folga maior no horário. Aproveitou para ir até o seu apartamento e trocar de roupa. Seu sócio ficaria lhe aporrinhando o dia inteiro se ele aparecesse no consultório com a mesma indumentária e o cabelo molhado! Durante o trajeto até o trabalho, em Ipanema, foi relembrando como ele e Paola haviam se conhecido. Ela tinha ido ao consultório, por indicação de uma outra dentista, para fazer um tratamento de canal. Não passou despercebida: morena, olhos claros, divertida; suas roupas ora revelavam suas pernas, ora seu colo, ora suas curvas e escondiam muito mais. E muito cheirosa! A princípio, achava que ela nutria um interesse pelo seu sócio, mas como ela tratava ambos com a mesma naturalidade e a mesma malícia, ficava sempre na dúvida. Aos poucos ela foi deixando pistas de que, na verdade, sentia uma atração por ele, Caio. Eram olhares insinuantes, frases picantes, um deixar-se tocar... Quando se deu conta de que já havia chegado ao consultório, a garagem tinha ficado para trás e teve que dar a volta no quarteirão.
Na agência todos já sabiam que Paola tinha tido uma excelente noite, pois ela estava relaxada, de excelente humor, tirando de letra todos os “pepinos” que surgiam. Quase ao final do expediente o telefone celular tocou. Paola demorou alguns segundos para atender, pois o aparelho estava escondido sob uma pilha de papéis na sua mesa.
— Alô?
— Alô! Paola?
— Sim. Quem é?
— Oi! Sou eu, Eduarda Chiavenatto.
— Ah! Oi, Duda! Como vai?
— Tudo bem. E você?
— Tudo ótimo.
— Paola, eu estou te ligando para saber se você teria um tempinho para me mostrar as suas fotos? Eu estou muito interessada.
— E você já está voltando para São Paulo?
— Embarco no final da semana.
— Então, que tal marcarmos para depois de amanhã, quinta-feira?
— Por mim está perfeito.
— Certo. Você se importa se um amigo meu estiver presente? Ele também quer ver as fotos.
— É... Não, tudo bem. – Eduarda respondeu meio vacilante.
— Maravilha! Vou fazer um queijos e vinhos pra gente. Gosta?
— Depois daquele macarrão aos quatro queijos do nosso almoço, nem dá para dizer que não gosto, não é?
— Então estamos combinadas. Anota meu endereço.
(Continua)

domingo, 22 de novembro de 2009

Mediocridade


Coisa mais triste é a mediocridade. Não falo daquela existência mediana que todos nós temos, uma vez que é natural que poucos se destaquem nesse mundo imenso, mas sim daquela mediocridade que se ocupa unicamente da vida alheia. Esse tipo de pessoa torna a sua própria existência em algo tão pobre, tão pobre, que repele quem a rodeia, pois ninguém suporta quem se alimenta exclusivamente de outrem.
Imagine só como deve ser insignificante o dia-a-dia de alguém que se atém aos acontecimentos da vida de outra pessoa! O cotidiano deve ser muito limitado para que este indivíduo só fale, só cite um fato ocorrido externamente. Será que em sua vida não há nada de bom para ser comentado? Será que sua vida é tão enfadonha assim? Será que esta pessoa é incapaz de suscitar emoções ou produzir acontecimentos empolgantes? Ou será que corre aí um fio de inveja, de veneno?
Muitas pessoas reclamam que sempre estão sozinhas, que não conseguem um companheiro, que não têm amigos, que não têm em quem confiar e não é para menos! Você leitor (a) confiaria em alguém que fica explanando a vida dos outros aos quatro ventos sem nenhum propósito que não o de se exibir (nesse caso, negativamente)? E namoraria um espécime desse tipo? Posso apostar minha capacidade de escrever como a resposta – pelo menos das pessoas sãs – é: NÃO!
Sabe, essas pessoas que têm a língua maior que a boca, e que nós conhecemos como fofoqueiras, possuem um energia que parece mais um jato de Baygon: são altamente repelentes. Ademais, muitas vezes, acabam provando do próprio remédio e se dão muito mal. Conversando sobre esse assunto, entre um chopp e outro, com um amigo, este me contou um caso verídico que ocorreu na faculdade onde ele estudava, no seu 6º período do curso de Direito. Vou relatar o episódio utilizando nomes fictícios para facilitar a compreensão do leitor. A turma desse meu amigo era muito unida, pois já conviviam desde o primeiro período, apesar de alguns atritos normais a um contato diário, todos se respeitavam e se ajudavam; quando surgia algum problema, todos se mobilizavam para solucioná-lo e se este era de foro íntimo, não transpirava para o resto da instituição. Segundo esse meu amigo, sua turma sempre foi cordial com os “intrusos”, mas não lhes permitia fazer parte da intimidade construída. Um belo dia, um casal de alunos mais antigos, Marta e Fábio, foi visto por um desses intrusos, Pedro, nas escadas da faculdade e de acordo com a dupla, seguindo em direções opostas. Isso foi o bastante para Pedro tirar suas próprias conclusões e durante as aulas passar a fazer insinuações maldosas que denegriam a reputação de Marta, causando um constrangimento geral. Ela era muito querida e respeitada por todos: alunos, professores e funcionários; era generosa e camarada, sempre pronta a ajudar quem quer que fosse; estava sempre de bom humor e seu comportamento era irrepreensível; além de ser uma das melhores notas da faculdade! Pois bem, Pedro continuou com as brincadeiras sem-graça e não satisfeito em fazê-las dentro da turma, resolveu divulgar o caso para o resto da instituição; o curioso é que as indiretas eram sempre lançadas à Marta e nunca ao Fábio. Pedro começou a baixar o nível dos comentários, insinuando que teria visto a dupla em atitude libidinosa. Foi a gota d'água. Marta, humilhada, procurou a Justiça e entrou com um processo por calúnia e difamação contra o Pedro e ganhou a causa, obrigando-o a pagar uma indenização por danos morais e as custas do processo. Mais tarde, ficou-se sabendo que o motivo que levou o infeliz a fazer tais afirmações foi o despeito, pois ele estava interessado em Fábio e havia sido solenemente rechaçado; então, por frustração e vingança, resolveu atingir Marta, que estava na escada desabafando um problema familiar com Fábio e não queria que ninguém os ouvisse. O fato é que depois de tudo isso, Pedro passou a ser considerado como persona non grata; quando se aproximava de um grupo que estava conversando animadamente, este se desfazia para não ter que incluí-lo no bate-papo; passou a fazer os trabalhos sozinho, pois ninguém o queria nos grupos, etc.
Este episódio me deixou estarrecida e revoltada! Esse Pedro (e gente como ele) é um ser desprezível e asqueroso, com uma vida absolutamente medíocre. Que culpa as pessoas têm se ele levou um passa fora? E se ele é vulgar? Quem vai se interessar por uma pessoa cuja vida é tão oca que a única coisa interessante que tem para falar são os acontecimentos dos outros e dos quais ele sequer faz parte??? O meu consolo é que a vida se encarrega desse tipo de gente, dando-lhes o castigo que merecem: desprezo e solidão.
Não estou dizendo que não se pode comentar sobre o vestido da fulana na festa, ou o fora que beltrano levou, ou mancada que sicrano deu – pois ninguém está fazendo concurso para santo e nem vestibular para freira ou monge –, desde que não ultrapasse os limites, não magoe e nem prejudique ninguém e não seja o único tema da sua pauta, porque aí ninguém aguenta! Abaixo a MEDIOCRIDADE, já!
PRA BOM ENTENDEDOR MEIA PALAVRA BASTA...

domingo, 15 de novembro de 2009

Para Edu

Você que sem pedir licença
Invade meus pensamentos
Invade meus sonhos.

À você que eu
quero em meus braços
Ofereço minhas mãos
Ofereço meu colo.

Você que precisa de bálsamo
para a alma,
De mel para a boca,
De carinho para o coração.

Peço licença para cruzar seu caminho,
Peço permissão para entrar na sua vida,
Peço seu consentimento para fechar as feridas.

sábado, 14 de novembro de 2009

Separações


Pouca coisa no mundo há de mais complicada do que uma separação. Por mais que seja desejada, planejada, acordada e, sobretudo, necessária, sempre é um momento desolador. Às vezes queremos nos livrar daquela pessoa o mais rápido possível, queremos ver o diabo e não queremos vê-la; às vezes queremos lhe perdoar todas as falhas, abraçá-la e fazer as pazes. E por mais que essa pessoa nos tenha magoado, ferido; no fundo (bem no fundo!), temos a esperança de que as coisas voltem ao normal, ao início do relacionamento, quando tudo eram flores. Infelizmente, em alguns casos, essa volta no tempo não é mais possível e resta apenas aquele gosto amargo de fracasso.
Lembrei, agora, de uma música muito antiga e, confesso, meio brega, que fez muito sucesso na voz de Márcio Greyck, e que dizia: “[...]Quantas vezes nos dissemos eu te amo prá tentar sobreviver./Aparências nada mais,/sustentaram nossas vidas,/Apesar de mal vividas /têm ainda uma esperança de poder viver./[...]”. Sobreviver??? Isso é algo que nós fazemos todos os dias no mundo, mas o que queremos mesmo é VIVER! Queremos ser felizes, rir, ser amados, amar, estar com os amigos, sentir a brisa no rosto numa tarde de verão, olhar o pôr-do-sol em boa companhia, tomar um chopp e jogar conversa fora. E é hora de questionar se vale a pena viver só de aparências. Temos tanto potencial para ser desperdiçado com uma existência apática?!
Deve-se levar em conta que, muitas vezes, a separação parece irreversível, mas depois que a poeira baixa, vê-se que a ferida não é tão funda assim. Portanto, não é aconselhável tomar nenhuma medida de cabeça quente. Não se precipite escolhendo uma nova pessoa para substituir quem se foi, só para preencher um vazio no coração e na cama. Dizem que um velho amor se cura com um novo; pode até ser, mas é preciso muito cuidado para não magoar alguém que não tem culpa de nada. Não estou dizendo que não se deve procurar uma companhia agradável que faça esquecer os problemas e ajude a levantar o astral, muito pelo contrário; a única recomendação é que se seja absolutamente franco e que a situação seja a mais clara possível para ambos.
A separação é um processo natural da vida, todos passamos por ela – e quem ainda não a enfrentou em quaisquer de suas formas, esteja certo de que um dia estará frente a frente com ela, – pois ninguém é propriedade privada do outro. Todos cometemos erros na intenção de acertar e continuaremos assim por toda a existência; então, àqueles que se separaram, aconselho que continuem buscando a felicidade, seja com outra pessoa, seja com a mesma, seja até sozinho. Vão ao cinema, assistam a um filme bem romântico, passeiem à beira-mar, namorem bastante e acima de tudo: VIVAM E DEIXEM VIVER!

Foda-se a celulite!


Recentemente, fui ao médico para examinar uma desconfortável sensação de peso nas pernas, que se intensifica com as altas temperaturas do nosso paradisíaco Rio de Janeiro. Após o exame dos meus membros inferiores, o especialista saiu com a seguinte frase: “Você não pode engordar mais, hein? Cuidado com as estrias!”. Ah, fiquei furiosa e se não fossem os cabelos brancos do médico e a boa educação que minha mãe me deu, eu o teria mandado à merda (de barquinho sem remo)! Era a primeira vez que ele estava me vendo; além do mais, ele era angiologista e não dermatologista. Se eu estivesse procurando um tratamento para a pele, teria buscado a segunda especialidade e se estivesse preocupada com o meu peso, procuraria um nutricionista. Lógico, não?
E qual o problema se eu tenho estrias? E se eu tenho celulite? A Carolina Dieckmann também tem e nem por isso a consideram um monstro. Parece que a mulher só vale pela sua aparência, pelo seu corpo – que tem que ser escultural, senão a infeliz está fora do sistema. E quando eu digo fora do sistema é fora mesmo: alguns quilinhos a mais te usurpam um emprego, um namorado e até um lugar ao sol na praia. Se a mulher está com um pouco de culotes e coloca um biquíni, pra começar que os homens nem olham e as saradas ficam só “tesourando”. Se tiver celulite também, já corre o risco de ser chamada de lua (por conta das crateras) e se a barriga fizer uma discreta dobra sobre a calcinha, pronto: será a “baranga” da praia!
Eu assumo mesmo que tenho estrias, celulite, a carne não é mais tão firme como há vinte anos atrás, o abdômen prefere a máquina de lavar ao tanquinho, mas e daí? Eu não sou apenas meu corpo, sou muito mais do que isso: sou minhas experiências, sou o conhecimento adquirido através de anos de estudo, sou as amizades que faço, sou os valores que construo, sou meus sonhos, sou o prazer que posso proporcionar ao outro com meu amor e não só com o meu sexo (e com ele também!), sou a minha inteligência e minhas aptidões, sou minhas qualidades, sou minha alegria, sou meu senso de humor, sou minha competência no trabalho e sou muito mais... Por que tenho que ser vista só como uma “casca de laranja” com alguns veios esbranquiçados? Quando eu morrer serei apenas um montinho de cinzas e posso garantir que até chegar a esse ponto, o conjunto da obra será bem mais desagradável do que o atual.
Confesso que não vou à praia, mas não por causa do meu corpo fora do padrão Bündechen/Melancia, e sim porque não gosto do tumulto dos vendedores ambulantes, do pessoal que joga futvôlei e frescobol sem se preocupar com quem está ao lado, não gosto da correria das crianças que ora te jogam areia, ora te jogam água. Fui talhada para a piscina, com sua água clorada e transparente, para uma confortável espreguiçadeira, para o chão de ardósia.
Quanto ao quesito homem, aprendi que os sarados são só para o prazer visual. Atualmente prefiro os normais, de preferência que já tenham aquela barriguinha (eu disse BARRIGUINHA e não gravidez!). A razão é simples: homens muito bonitos tipo Cauã Raymond geralmente só olham para Grazis Massaferas, da mesma forma os de academia só querem as “malhadas”; logo se você não pertence a nenhum desses grupos, escolha alguém que também tenha “telhado de vidro”, pois se ele não estiver em forma, não poderá exigir que você esteja! Bingo! Homens realmente inteligentes não ligam para essas imperfeições estéticas de suas parceiras, porque sabem que o que conta é o prazer que elas lhes proporcionam e isso independe de celulite, estria, etc. O que importa se o seio não está empinado, se quando ele é tocado o mamilo se excita? A mulher tem culote. E daí? Não é ele que produz o orgasmo.
Não estou fazendo apologia ao desleixo! Temos que cuidar do nosso corpo, uma vez que dependemos dele para viver, mas não precisamos entrar na ditadura da forma que nos é imposta. Se você não está satisfeita com seu peso atual, faça uma dieta; se o seu cabelo está te dando muita tristeza, transforme-o; se sua pele está sem viço, hidrate-a. Cuide de suas unhas, perfume-se, renove seu guarda-roupa com roupas que te deixem mais bonita sem abrir mão do conforto e do seu estilo. Não use um jeans cintura baixa que te deixa com pneuzinhos só porque está na moda, prefira um belo vestido longo estampado, solto. Se você tem belos seios, valorize-os com um decote, mas não exagere para não ficar vulgar; se as suas pernas são bonitas, coloque um short e uma sandália. Talvez seu rosto seja seu ponto forte, então aprenda novos truques de maquiagem para realçá-lo; ou quem sabe seu cabelo é de dar inveja, então chame a atenção para ele. Busque em primeiro lugar o seu bem estar e sua auto-estima automaticamente subirá. Mostre ao mundo o que você tem de melhor: você mesma!

domingo, 8 de novembro de 2009

A Libertina (Trecho)


A vida estava absolutamente normal. Todos os dias Paola fazia quase as mesmas coisas: acordava, tomava um banho, bebia sua xícara de café com pão integral e um pedaço de queijo branco, lavava a louça, vestia uma roupa, se maquiava, passava uma escova nos cabelos curtos, pegava sua bolsa e ia para o metrô a caminho do trabalho. Parecia até música do Chico Buarque. A única variação nessa rotina era a atividade que exercia dentro do vagão: se estivesse sentada lia o jornal ou um livro, se estivesse em pé ouvia as músicas do seu i-pod. Raramente se apercebia das pessoas ao seu redor; olhava todos os rostos, mas não se fixava em nenhum e procurava evitar ao máximo quaisquer tentativas de conversa, usando seus óculos escuros mais como um escudo do que como proteção contra a luz.
Essa manhã não parecia diferente das outras, não fosse pelo vagão quase vazio, poderia dizer que estava na manhã passada. Sentou-se perto da janela que dava para a escuridão, retirou seu Saramago de dentro da enorme bolsa e, sem separar-se do seu indefectível óculos escuros, mergulhou no Don Giovani ou O dissoluto absolvido. Poucas vezes durante o trajeto parava a leitura para ver quem entrava na composição, todos desinteressantes, indignos de mais do que dois segundos de observação. Não que se achasse melhor do que o resto da humanidade, mas estava em uma fase da sua vida na qual não achava ninguém interessante o suficiente para mobilizar suas energias.

Era o efeito colateral de mais um relacionamento fracassado, mais um que tinha ido pelo ralo como água suja. Começou tão promissor...Ele era um cara legal, simpático, inteligente, charmoso, tinha até seus momentos de beleza física, bom de cama, quase perfeito não fosse o ciúme cretino! Desde o início Paola tinha avisado a Caio que não exigia fidelidade e sim lealdade do parceiro, logo se não fazia tal exigência também não admitia que lhe cobrassem fidelidade, certo? Ele, por sua vez, disse que não dava conta de tantas contradições; uma mulher que quer compromisso, mas que ao mesmo tempo não quer perder a liberdade; uma mulher que não sente ciúmes, mas que exige total atenção; que gosta de ficar em casa, mas adora uma balada com os amigos e por aí vai.
Paola detestava essa mediocridade de Caio, essa limitação de ideias, essa mentalidade mono, nunca plural; ele não conseguia entender que um ser humano pode ser vários, era somente uma questão de circunstancialidade. Ela era uma mulher antenada, liberal, aberta ao novo, flexível, isso era da sua natureza e, ainda que não fosse, o seu entorno a faria assim. Sendo publicitária, estava imersa nesse mundo “descolado”, seus colegas de profissão eram pessoas com a mente receptiva a novos conceitos e valores, condição sine qua non para a criatividade.
Enquanto refletia sobre alguns aspectos de seu último relacionamento, se deu conta de que seus olhos se haviam fixado em uma pessoa dentro do vagão, uma mulher que estava sentada na diagonal oposta. Era jovem, cabelos cacheados e avermelhados, pele clara, traços regulares, seios fartos e pernas longas. Poder-se-ia dizer que era atraente, ainda que possuísse uma beleza comum, dessas que se veem pelas ruas. Por que seu olhar tinha ido parar ali? A mulher vestia-se com discrição e sua atitude não chamava a atenção de nenhum homem. Talvez fosse vício da profissão e do seu hobby: a fotografia. Por conta dela aprendera a reconhecer a beleza oculta de objetos, paisagens e pessoas. Um de seus ex-namorados era fotógrafo e tinha lhe ensinado todos os truques dessa arte. Empolgada, Paola comprou uma câmera e saiu clicando tudo ao seu redor. Até que um dia resolveu arquivar as imagens no computador do seu “ex” para liberar a memória da máquina fotográfica e enviá-las para o seu computador por e-mail mais tarde e encontrou uma pasta repleta de fotos pornográficas; passou uma boa parte da madrugada e do sono do seu companheiro vendo aquelas fotografias. Desde então passou a especializar-se em nu artístico.
Nesse momento a composição parou na sua estação. Notou que a mulher se preparou para desembarcar, mas como havia muita gente perdeu-a na multidão que tomou a plataforma. Sendo levada pelo fluxo que buscava a luz do sol, voltou seus pensamentos para a reunião que estava marcada para daqui a meia hora e esqueceu-se da ruiva que captou sua atenção no metrô. Caminhou vigorosamente até a agência, o salto da sandália martelando a calçada. Cumprimentou o porteiro do edifício e se dirigiu para a fila dos elevadores. Qual não foi sua surpresa, depois de ser espremida no fundo do elevador, ao ver a “mulher do metrô” entrando calmamente, segurando um copo descartável de café expresso em uma das mãos, uma barra de cereal na outra, um portfolio pendurado no antebraço esquerdo e uma bolsona marrom no ombro direito. Era até engraçado, parecia um polvo e, ao mesmo tempo, a graciosidade parecia a de uma deusa hindu. Desceram no mesmo andar. Aí já era coincidência demais! Se encaminharam para a mesma porta e finalmente a mulher olhou para Paola; seus olhos eram de um verde quase dourado, deu um meio sorriso e disse:
— Desculpe, sou meio atrapalhada. Será que você poderia abrir para mim?
— Claro – respondeu Paola. – Você veio para a reunião da Storm Kline?
— Isso! Meu nome é Eduarda, Maria Eduarda Silveira.
— Ah, oi! Eu sou Paola Chiavenatto. Nós não falamos na semana passada sobre a escolha do elenco da peça publicitária?
— Exato! Eu sabia que a sua voz e o seu nome me eram familiares.
Foram caminhando pelos corredores da agência.
— Ainda temos quinze minutos. Não quer conversar um pouco na minha sala? Assim você pode terminar o seu café e eu posso fumar um cigarro antes da reunião. – convidou Paola.
— Perfeito.
A sala era pequena, mas bem equipada e confortável. Notebook, multifuncional, DVD, uma tela de plasma na parede, algumas reproduções do Central Park e do Tâmisa, um quadro do Romero Britto sobre uma parede lilás; uma bergère listrada próxima à janela, uma mesa de vidro onde ficava toda a parafernália eletrônica de Paola e um retrato de Caio, um cadeira tipo diretor bem acolchoada e duas cadeiras com estrutura em inox do outro lado da mesa completavam o ambiente. Acomodaram-se. Paola pegou o telefone e pediu que Lena, a secretária, trouxesse a pasta da Storm Kline.
— Aceita? – perguntou Paola oferecendo um cigarro.
— Não, obrigada.
— Você não fuma?
— Fumo, mas não vai dar tempo agora e eu detesto fumar correndo.
— Tem razão, eu também não gosto, mas esse vício já faz parte da minha rotina. E empestear o ambiente é meu esporte predileto, como diz a Leninha, minha secretária. – respondeu rindo.
— Bem-vinda ao clube dos fumantes incompreendidos. – disse Eduarda.
Lena entrou no mesmo instante que o telefone tocou. Colocou a pasta sobre a mesa e ficou esperando Paola atender a ligação. Paola fez um sinal de positivo com o polegar e Lena saiu da sala.
— Oi Raul! Já cheguei e estou com a representante da Storm aqui na minha sala. Certo. Hum, hum. Ok, sala de reuniões em cinco segundos.
— Vamos, Eduarda?
— Vamos.
A reunião transcorreu animada e descontraída. As partes, anunciante e agência, se entenderam muito bem. Algumas ideias foram rejeitadas e outras aprimoradas. Foram analisados vários books, storyboards, textos. Todos os detalhes das peças na TV e na mídia impressa foram alinhavados, ficando para uma outra reunião apenas as peças dos outdoors. Já estavam próximos da hora do almoço.

— Você tem algum compromisso agora? – perguntou Paola.
— Não. Tava pensando em procurar algum lugar para almoçar.
— Ótimo. Que tal almoçarmos juntas? Tem um restaurante bem legal aqui perto e a comida é uma delícia.
— Perfeito. Você é um anjo porque eu não conheço quase nada aqui no Rio e até que encontrasse um lugar para comer já iria jantar!
— Exagero, vai? Tem um Mc Donald’s aqui na esquina.
Riram muito. Pegaram suas bolsas e saíram. Caminharam por duas quadras e entraram no restaurante. Fizeram seus pedidos:
— Boa tarde, Andrade! – Paola cumprimentou o garçom. – Hoje tem aquele salmão grelhado com Ceasar salad que eu adoro?
— Tem sim, Dona Paola. E tá caprichado!
— Beleza! É isso e um suco de laranja sem açúcar e sem gelo, ok?
Virou o rosto na direção de Eduarda e perguntou:
— E você, já escolheu?
— Acho que vou querer um fettuccine aos quatro queijos e uma Coca diet, por favor.
— Copo com gelo e limão? – indagou o garçom.
— Sim. Obrigada.
Paola não pôde conter uma risada. Era surreal a combinação que Eduarda tinha feito, uma massa altamente calórica com uma bebida de baixa caloria. E ela nem era gorda, muito pelo contrário, tinha um corpo perfeito...
— Que foi? Do que você está rindo? – inquiriu Eduarda.
— Da sua combinação gastronômica. Parece coisa de gordo desesperado!
— É para a consciência não ficar tão pesada.
— Imagina! Você está ótima, não precisa de nenhuma dieta, Eduarda.
— Pode me chamar de Duda. E uma mulher sempre precisa de dieta até quando não precisa.
— Fala sério, Duda! Onde você acha que precisa melhorar? Seu corpo é um show!
— Como você sabe que meu corpo é um show?
— Eu tenho olho clínico. Sou fotógrafa nas horas vagas.
— Fotógrafa? Que legal, eu adoro fotografia. E o que você gosta de fotografar? Paisagens?
— Não, pessoas.
— Ah, tipo fotografia de moda, essas coisas?

— Não, tipo Playboy e G Magazine mesmo.
— Sééério??? – Eduarda quase gritou de tão constrangida e nervosa.
— Desculpe. Te choquei, não foi? Às vezes eu esqueço que nem todo mundo encara esse tipo de fotografia com a mesma naturalidade que eu.
— Não, não, não é isso. É que eu nunca tinha conhecido ninguém que trabalhasse com essa área. Pra te dizer a verdade, eu adorei saber!
— Agora é a minha vez de te dizer: Sério? – indagou Paola meio desconfiada.
— De verdade. Você se importaria de mostrar seu trabalho? Se não for muito invasivo, claro.
— Eu não me importo, tudo bem. Mas quanto tempo você vai ficar no Rio?
— Uma semana.
Continuaram conversando. Já tinham ultrapassado, e muito, o tempo do cafezinho. Pediram a conta, que Paola fez questão de pagar, e trocaram telefones.
— Se você precisar de alguma coisa aqui no Rio pode me telefonar, tá?
— Obrigada, Paola.
Na calçada se despediram. Eduarda pegou um táxi para o hotel e Paola voltou para a agência, onde uma pilha de papéis a esperavam, ansiosos por uma análise e uma canetada. O dia ia transcorrendo sem sobressaltos. Quase na hora de ir embora o telefone tocou. Era Caio convidando-a para um chopp. A princípio Paola tentou se desvencilhar da situação, mas acabou cedendo, contanto que tomassem um vinho em sua casa, pois estava cansada demais para se produzir para um encontro, por mais previsível que este fosse. Caio topou e combinaram às 21:00h. Paola faria um risoto, desses de pacote que vendem no supermercado, e Caio fez questão de levar o vinho tinto.
Na hora combinada a campainha do apartamento soou. A mesa já estava arrumada; Paola de banho tomado, cabelos ainda molhados caindo no rosto, usava um vestido solto de alcinha e sandálias de salto médio. Tinha passado um lápis nos olhos, rímel e um gloss, só para não ficar com cara de quem havia voltado da guerra. Na pele, o suave aroma do hidratante corporal que usou depois do banho. Abriu a porta e viu Caio todo arrumado, perfumado, com uma garrafa de vinho e um buquê de rosas nas mãos e aquele sorriso mal-intencionado pendurado no rosto. Na mesma hora se arrependeu por ter aceitado a visita e teve certeza de que teria trabalho naquela noite. Jantaram e foram terminar a garrafa de vinho no sofá.
— Olha Caio, você me conhece bem, então eu vou direto ao ponto: as flores são lindas, o vinho está ótimo e o que você pretende com isso?
— Ah, Paola, eu acho que nem preciso dizer...
— Meu bem, você sabe que nós vivemos a vida de modos distintos, temos posições antagônicas; você é conservador e eu sou muito “porra louca”. A gente já sabe onde isso vai dar.
— Mas Paola eu...
— Espera, deixa eu terminar. Lembra do dia em que eu te propus irmos a um clube de suingue? Você quase se jogou pela janela de tão chocado! Eu posso até rever a cena: você ficou branco de susto, vermelho de vergonha, roxo de raiva e verde de nojo, só faltou desmaiar... parecia uma donzela.
— Peraí, você está duvidando da minha masculinidade???
— Claro que não! Aliás, essa é a última coisa que eu posso duvidar nesse mundo. Você é gostoso pra caramba. Só de estar aqui, te olhando e ouvindo a sua voz, eu já ensopei a calcinha. Meu corpo está
gritando: Caio! Caio! Caio!
— Então Paola...
— Nossa, eu adoro sexo, você sabe. Quando eu fico mais de uma semana sem transar, meus hormônios se rebelam e fazem um motim; eu fico intratável. Tudo bem, eu me masturbo; mas preciso sentir um pau na minha boceta, uma língua me lambendo... Só que não é só isso, entende? Eu quero um parceiro pra tudo. Olha só o jeito que você está me olhando...isso só por conta do meu vocabulário!
— Paola, escuta. Eu pensei muito no que você me disse no nosso último encontro e decidi que quero mudar.
— Maravilha, vai em frente!
— Mas eu preciso de você. Me ajuda, por favor. Eu não quero te perder.
— Ai, Caio... Sei lá...
Caio retirou a taça da mão de Paola e colocou-a sobre a mesa de centro. Aproximou-se e beijou-lhe o rosto, o pescoço e finalmente a boca. Paola, que já estava sob o efeito de vinho e de toda a sua carência sexual, entregou-se. Reclinando Caio no sofá, montou sobre ele e retirou o vestido. Estava só com uma minúscula calcinha de renda e os mamilos excitados. Caio massageava seus seios e os sugava avidamente enquanto Paola desafivelava o cinto da calça. As mãos de ambos se encontravam e se separavam para percorrer o corpo do outro e despí-lo; Caio, desesperado de desejo, rasgou a calcinha de Paola com um puxão, o que a deixou mais excitada ainda. Depois de livrar o corpo de Caio da última peça de roupa, Paola pegou o pau duro do amante e esfregou-o na entrada molhada de sua vagina, que foi engolindo aquele sexo lentamente, em movimentos ritmados, como uma cobra engolindo sua presa. Caio puxava Paola para si como se quisesse fundir-se a ela, como se quisesse alcançar o inalcançável; se contorcia e lutava para segurar o gozo, que estava prestes a explodir. Percebendo o momento, Paola sentiu o frêmito do seu orgasmo se aproximando, as ondas elétricas se espalhavam no seu sexo, acelerou o galope e cravou as unhas na carne de Caio. Este, sentindo a dor misturada ao prazer, não teve mais como resistir e lançou seu gôzo dentro daquela boceta maravilhosa que vibrava ao sabor dos espasmos de seu próprio orgasmo. Ofegante, Paola deitou sobre o peito de Caio e assim ficaram, sentindo coração um do outro, respirando no mesmo compasso, os sexos ainda unidos e úmidos.
[...]

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Beijocas para os meus amados (em ordem alfabética, tá!): Eduardo e Maurício. O primeiro tem os olhos mais sensacionais que eu já vi e o segundo tem o descaramento mais sedutor do RJ.

Fidelidade x Lealdade


Tenho refletido sobre a questão da fidelidade e quanto eu mais eu penso a respeito, menos eu a compreendo. Não consigo entender por que as pessoas insistem tanto nesse ponto. A maioria acha que fidelidade é prova de amor, mas para mim amar é querer que o outro seja feliz e pleno. E como alguém pode ser feliz se tiver que se anular e reprimir sua natureza? Claro que não podemos dar vazão a todos os nossos instintos, caso contrário, viveríamos no caos, nos mataríamos uns aos outros, o estupro correria solto, entre tantas outras abominações. Verdade que estamos a caminho, mas ainda não nos tornamos piores do que Sodoma e Gomorra. Ainda assim fico pensando qual o propósito da fidelidade?
Já viram como os homens têm uma outra visão da fidelidade? Como eles sabem separar sexo de amor? Para eles, sair com uma outra mulher que não a sua companheira, não significa que eles não a amem mais ou que não sintam mais desejo por sua namorada ou esposa, significa tão somente que eles se sentiram atraídos por uma outra fêmea e seguiram seus instintos. No entanto, as mulheres fazem um “cavalo de batalha” porque acham que estão sendo traídas. Se agarram à fidelidade como se esta fosse o único meio para manter uma relação, como se fosse uma corrente de ferro, que uma vez fundido o último elo, torna-se indestrutível. O que ocorre é que quase todas as mulheres são reprimidas sexualmente, não têm coragem para romper os grilhões sociais e usam a fidelidade para castigar os homens por sua liberdade sexual, como uma espécie de vingança. Só que no final das contas são elas que ficam com o sofrimento e o gosto amargo na boca, pois são raros os espécimes masculinos que se submetem a tal condição. Elas não percebem que quanto mais tolhem o parceiro, mais eles buscam a liberdade em outros braços. Eles não querem uma carcereira, querem uma parceira, uma cúmplice e uma companheira. Homens não são cavalos de charrete para andarem com anteolhos e tampouco as mulheres deveriam ser!
O problema é que ainda temos uma visão romântica do relacionamento entre um homem e uma mulher. A Igreja, por um lado, com os seus “O que Deus uniu, o homem não separe jamais” e “Até que a morte os separe”; a literatura, por outro lado, com o “E foram felizes para sempre”, contribuem, e muito, para a cristalização dos valores. Nada contra a instituição CASAMENTO, o elemento complicador, ao meu ver, é a base sobre a qual ele é fundado. Explico melhor. As partes, quando se casam, exigem unicamente uma coisa: fidelidade. Só que esquecemos que esta “qualidade” não é natural do ser humano, é algo adquirido. Vejamos, o homem (raça), tal como os demais animais, obedece a um instinto primitivo de procriação; o homem (gênero) deve transmitir seus genes ao maior número possível de mulheres para garantir a multiplicidade e a sobrevivência da espécie. Cabe à mulher selecionar aquele que julgar mais forte e saudável para fecundar o seu óvulo, uma vez que seu processo de gestação é lento e doloroso, daí a necessidade de eleger um parceiro por vez. Porém, isso não quer dizer que este deva ser o único! Se fosse desta maneira, poderíamos ficar como na Arca de Noé e pronto: um par de cada espécie para todo o sempre. Amém!
Algumas leitoras argumentarão que, muitas vezes, os homens são os que mais exigem a fidelidade. Concordo. No entanto, o motivo que os leva a tal exigência é bem diferente do das mulheres. Nós (e me incluo apenas como gênero) depositamos a nossa felicidade no outro e com isso criamos uma dependência emocional, portanto se o nosso amado vai atrás de um outro “rabo-de-saia”, nos sentimos frustradas e fracassadas. Os homens, por sua vez, depositam na fidelidade a sua virilidade, ou seja, se suas mulheres vão para a cama com um outro, para eles é como se não fossem capaz de satisfazê-las, como se fossem meio impotentes e menos machos. A questão então é simples: nós queremos a fidelidade para nos sentirmos únicas, especiais e felizes; eles também querem a fidelidade para se sentirem potentes e viris. Pura insegurança de ambas as partes, porque todos somos especiais, únicos, sexualmente potentes e podemos ser felizes por nossos próprios méritos. Claro que com o outro é muito melhor, mas não precisamos jogar mais este peso nos ombros alheios.
O que quero demonstrar é que exigimos algo que é antinatural e, se é assim, por que impomos uma escolha única e perpétua? Será que não estamos elegendo a opção errada? Será que não seria melhor “exigirmos” do parceiro (a) lealdade em lugar de fidelidade? Não é mais desejável que a pessoa que está ao nosso lado sinta-se confortável para falar abertamente dos seus sentimentos e sensações do que forçá-la a reprimir seus instintos para satisfazer a uma vaidade? Vaidade sim, pois os fiéis são altamente narcisistas e egoístas; obrigam o parceiro a ser um reflexo de si próprios, uma vez que se acham perfeitos e não se importam se o outro está feliz com essa “opção”. Pensam que se eles podem refrear seus desejos, por que o outro não pode? “Se eu sou fiel, você também tem que ser!”. Os fiéis creem que possuem todas as qualidades do mundo e são capazes de satisfazer plenamente o parceiro e por isso acham um total desrespeito quando o companheiro olha para uma outra pessoa.
Atenção! NINGUÉM é perfeito. Ao longo da vida você pode se encantar por um sem fim de pessoas. Você pode, em uma determinada fase da sua existência, se apaixonar por alguém lindíssimo, carinhoso e generoso, mas as coisas mudam e, de repente, você dobra a esquina e conhece uma outra pessoa com características distintas que te completam melhor neste outro momento da sua vida. E agora? Você continua com o seu parceiro, mesmo sentindo-se infeliz, só porque jurou fidelidade? Ou você preferiria poder sentar com seu companheiro e dizer a ele que está se sentindo fortemente atraído por outra pessoa e tentar encontrar uma solução juntos? Logo, penso que deveríamos modificar o juramento que fazemos diante do sacerdote ou Juiz-de-Paz. Em lugar do: “Juro ser fiel, amar-te e respeitar-te na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza...”, deveríamos dizer: “Juro ser leal e verdadeiro, respeitar-te e amar-te. Ser teu(tua) companheiro(a) em todos os momentos de nossa vida, sejam eles bons ou maus até que a vida nos separe”. E de quebra ainda podíamos mudar os contos-de-fada e finalizá-los parafraseando os mais perfeitos versos do poeta Vinícius de Moraes: “E foram felizes enquanto ardeu a chama do seu amor”.
Antes que os fidelíssimos me crucifiquem, vou logo dizendo que não sou nenhuma especialista em relacionamentos, na verdade meus fracassos são mais numerosos que os meus sucessos (pois só agora estou revendo meus conceitos e soltando as amarras), mas eu aproveito o tempo em que estou sozinha para tentar compreender o mecanismo das relações. E cada erro que cometo é uma nova reflexão. Por isso, aviso que não estou me metendo a dar conselhos a quem quer que seja, estou apenas expondo minha opinião, tentando demonstrar uma nova perspectiva, um novo olhar sobre um velho tema. Quem quiser me seguir, que o faça; quem for fiel convicto, encontrou a sua metade da laranja e ambos são felizes assim, parabéns! Só peço a estes últimos que, por favor, ao iniciarem um relacionamento, perguntem ao ser amado onde ele se enquadra, pois a fidelidade pode ser um jugo pesado demais. Vou continuar preferindo a lealdade à fidelidade, não quero que a pessoa que esteja comigo seja obrigada a mentir para mim porque não consegue subjugar sua natureza. O bom da vida é ser feliz.

sábado, 24 de outubro de 2009

Mudanças


Hoje eu acordei pensando em uma frase que ouvi, há muitos anos atrás, da ilustre deputada Cidinha Campos, nos tempos em que comandava um programa na rádio. Dizia ela, em um quadro de debates, e também não sei porque cargas d'água essa frase veio à tona, o seguinte: “Homenagem a gente só deve fazer à gente morta, porque os vivos ainda têm tempo de fazer alguma 'titica'”. A nobre deputada me perdoe se as palavras não estão transcritas ipsis literis, mas creio que traduzem a essência do pensamento.
Pois bem, esse pensamento não me saiu da cabeça enquanto tomava o café, enquanto cozinhava (porque há vida inteligente na cozinha!) e fiquei refletindo se eu não deveria aplicar esse lema, vamos chamar assim, à minha vida. Será que eu não estou dando muita importância à pessoas que não merecem? Será que eu não estou deixando que estas pessoas envenenem minha existência? Será que eu ceguei para a realidade em relação a estas pessoas? Começo a achar que sim. No fundo todos cometemos esses enganos, nos deixamos guiar pelas aparências, pelas palavras, pelos sorrisos...
Então iniciarei uma faxina – dessas que a gente faz no computador deletando arquivos inúteis, corrompidos por vírus, programas ultrapassados e toda sorte de quinquilharias que se acumula no disco rígido do PC – na minha própria vida e no coração, principalmente. Como não tenho a menor ideia de como fazer isso em ambiente tão diverso do tecnológico, vou começando pelos sintomas para depois chegar à causa, ou seja, iniciar por aquilo que meus olhos veem para chegar ao que o meu coração sente.
Minha primeira ação se dará aqui neste blog que, como os primeiros leitores devem ter percebido, foi criado para expressar a minha paixão por um certo homem. Um homem que eu cri maravilhoso, inteligente, corajoso. Aos que partilharam do meu universo acadêmico, ao lerem o conto Gataryn e algumas das poesias deste blog, saberão de quem se trata; aos demais, peço desculpas, mas não revelarei seu nome. Não retirarei nada do que foi postado por achar que a obra tem mais valor do que a musa.
O fescenino continuará sendo o carro-chefe deste blog, presente nos contos e poesias; contudo, estou abrindo um espaço para as crônicas de temas variados, textos opinativos, etc. Portanto, meus amigos, não se espantem com as alterações!
Sabem, eu tive a honra de ser aluna de uma das melhores professoras de Literatura que eu já conheci na minha vida, chamada Angélica Castilho, e em uma de suas aulas ela disse algo como: “Para que gastar dinheiro no analista, se você pode resolver suas neuras em uma folha de papel?”. É, “Angelicat”, você tem toda a razão; nada como escrever para expurgar o veneno e ficar, senão leve como uma pluma, pelo menos elegante como uma felina. Obrigada pela dica ;)

domingo, 18 de outubro de 2009

Viva! Viva! Viva a amizade colorida!

Tudo bem, "vá lá", um relacionamento estável é ótimo! Dá segurança, paz de espírito e TÉDIO!
Adoro homem apaixonado que traz flores, leva para jantar, abre a porta do carro, puxa a cadeira (para que eu me sente e não ele) e todas essas gentilezas que o adestramento (ops! Desculpe, relacionamento) trazem, mas o problema é que na esteira vem junto o sentimento de posse, o ciúme e o controle. Começam aquelas malditas perguntas e cobranças: "Aonde você foi ontem à noite?", "Vai sair com as suas amigas? Que horas você vai voltar?", "Ai, você não tem tempo pra mim!", "Foi bom pra você? Te senti meio distante hoje...". Argh, mil vezes argh! Dá vontade de responder que eu estava por aí, que vou sair com quem eu quiser (e pode ser do sexo oposto), que o dia tem só 24 horas e os afazeres não respeitam o relógio e que não foi bom porque eu estava pensando nas contas que vencem amanhã e vou ficar no vermelho.
Que atire a primeira palavra aquele que nunca passou por isso com seu namorado (a)! Se você também nunca teve vontade de dar uma resposta "atravessada" àquelas perguntas do tipo inquérito policial, meu amigo, você é um santo ou santa e merece uma estátua em praça publica!
E confesse que não existe nada melhor para exterminar uma relação do que esse tipo de comportamento inseguro, rotineiro, "grudento"; isso acaba até com o tesão. Tenha dó!
Não sou contra o namoro sério, muito pelo contrário, até almejo um, contanto que as partes acordem que ao primeiro sinal de grudice aguda ou possessividade psicótica deve-se recorrer imediatamente à D. R. I. (Discussão de Relação Intensiva). Ambos devem estar cientes de que um relacionamento precisa respirar, precisa de renovação, precisa de novos estímulos que serão escolhidos pelo casal. O que vai ser é problema de cada um...
Depois de passar por este tipo de experiência, na qual eu parecia um pássaro engaiolado, conheci um homem que se tornou um grande amigo. Esta amizade foi gerando uma intimidade que foi se fortalecendo, se transformando em algo muito bom, gostoso, relaxante e divertido. Só que aí apareceu o que, na época, me parecia um problemão: ele não queria compromisso. Verdade que éramos felizes, mas como na minha cabeça felicidade de verdade estava associada ao namoro, comecei a sofrer terrivelmente. Chorava noites e noites achando que estava sendo usada, que ele não me amava, etc, etc. Tentava desesperadamente modificar o status da relação, mas ele, talvez mais experiente do que eu, resistia impiedosamente e dizia que isso seria o melhor para a nossa amizade.
Na verdade, eu estava sendo "doutrinada", minha mente estava sendo preparada para um outro estágio de relacionamentos; minha percepção estava sendo ampliada e eu estava me libertando da formatação convencional. Ele foi me mostrando que o amor não é uma coleira onde a gente põe o outro e fica passeando por aí, se exibindo pra todo mundo ver como se é competente e não se está ficando "pra titia" (o que de pior poderia suceder a uma mulher no tempo de nossas avós!); foi me fazendo ver que a infidelidade não se dá quando você demonstra seu interesse por outras pessoas e sim quando você faz o outro acreditar que é eternamente único; me fez descobrir que a sinceridade e a franqueza evitam muita dor no futuro e que isto é respeito pelo outro: não enganá-lo nunca.
Foi um aprendizado penoso e ainda o é. No entanto, hoje sou capaz de perceber que o amor possui múltiplas formas e manifestações e cada vez que eu reencontro esse amigo, nosso sentimento reacende como no início, nos compreendemos maravilhosamente, rimos juntos, não fazemos cobranças porque sabemos que não pertencemos um ao outro, não pertencemos a ninguém, só a nós mesmos. Não medimos nosso amor e temos consciência dele; sei que ele me ama da maneira dele, bem como eu o amo do meu jeito. E devemos ser especiais um para o outro, pois, apesar de outras experiências, sempre nos procuramos.
É uma amizade cheia de alegria (com alguns desentendimentos porque somos humanos), cheia de desejo e ternura. Ainda somos incompreendidos, muitos acham que somos promíscuos porque "ficamos", acham que somos egoístas porque não pensamos nos sentimentos do outro, mas a verdade é que somos generosos, pois estamos valorizando a liberdade de cada um, o direito de vivenciar seus sentimentos sem culpa. Acima de tudo nos respeitamos, porque sempre pusemos as cartas sobre a mesa.
À você, meu querido Luiz, meus sinceros agradecimentos.

domingo, 11 de outubro de 2009

Homem pós-moderno? Você? Bah!

É incrível como algumas pessoas gostam de complicar as situações que surgem em suas vidas, sobretudo quando envolve sexo. Algo que deveria ser divertido, prazeroso, light; nas mãos desses indivíduos se torna um "cavalo de batalha"!
Claro que, como mulher, estou me referindo aos homens, mas não de um modo geral. Existem aqueles que acompanham a evolução feminina, acompanham as mulheres que não querem mais fazer o papel de mocinhas românticas e teleguiadas. São poucos ainda, porém tenho certeza que eles andam por aí; são difíceis de encontrar, mas uma vez encontrados, são o deleite de qualquer mulher descomplicada e bem resolvida. Entendem que sexo é sexo, amor é amor e que ambos não precisam estar vinculados o tempo todo nem são excludentes.
No entanto, a grande maioria ainda se ressente quando "topa" com uma mulher que assume seus desejos, seu tesão e assumem (para grande pavor deles) o controle da situação. Mulheres que tomam atitudes, iniciativas, são geralmente rotuladas como "fáceis", "promíscuas", "vagabundas" e isso pra mencionar só os melhores adjetivos!
Muitos desses homens têm a decência de demonstrar seus valores logo de cara, o que nos economiza tempo, paciência, tesão e noites de sono; porém outros se apresentam como CORDEIRO EM PELE DE LOBO! Isso mesmo, não troquei as bolas não! Passam a imagem de homens bem resolvidos, modernos, de mente aberta, sem preconceitos, apregoam até a pós-modernidade do comportamento, mas quando se veem diante de uma mulher pós-moderna, aí tremem nas bases e fogem de nós como o diabo da cruz! Não sem antes terem dado bastante corda para que nos enforquemos.
Geralmente são lindos, fofos, solícitos, gentis e possuem os mais variados dons, Quase sempre esses dons são aqueles que funcionam como o canto da sereia. Eles tocam suas flautas e vão encantando, seduzindo até que, quando já estamos cara-a-cara com o indivíduo e chega a hora de mostrar a que veio, o sujeito simplesmente fecha a tampa do cestinho e tenta nos trancar lá dentro. Ah, tenha santa paciência! Se não sabe brincar, não desce pro play!
Recentemente conheci um assim. Um homem de uma beleza comum, dessa que se encontra nas ruas, porém dotado de uma arma que para mim é extremamente afrodisíaca: INTELIGÊNCIA. Minhas amigas, que também o conheciam, me perguntavam o que eu tinha visto nele e eu respondia: "Não sei". Mentira, eu sei sim! Eu vi um cara que sabia escrever poesias como poucos, poesias lindas, lindas, românticas e sensuais na medida certa; um cara que parecia ter a mente aberta por ter convivido com grandes pensadores e filsósofos da nossa era; um cara tímido, mas que parecia encobrir uma grande força vital e sexual.
Leitores, tesão é como infiltração em parede: começa pequenininho, mas com a convivência diária vai tomando a área. Esbarrando nele todos os dias, pronto, deu-se a desgraça! Mas qual não foi minha surpresa, queridos, ao colocar as cartas na mesa e vê-lo fugir vergonhosamente da raia! Foi só dizer o que eu queria dele, e não vai ser difícil para você imaginar o que é, para ter iniciada uma partida de xadrez no melhor estilo Harry Potter!
Eu poderia ter desistido dele ao primeiro sinal de alerta, mas o problema é que sofro de persistência crônica (grave defeito, senhores!). Desde de pequena minha mãe dizia que eu era a criatura mais insistente que ela conheceu, só parava de atormentar depois que conseguia o que queria. E por que com ele seria diferente? Eu já lhe disse que ele pode espernear, fugir, trocar de identidade, fazer plástica, se mudar para a estação espacial, que ainda assim eu não vou desisitir. Masoquismo? Baixa auto-estima? Eu não acho. Gosto de uma boa disputa. seja de palavras, seja de ações; gosto do duelo de idéias, de argumentos. de forças, de vontades. Sabe aquele ditado: "Dou um boi pra não entrar numa briga e uma boiada pra não sair"? Cabe direitinho aqui.
E para encerrar, faço um apelo: Homens, por favor, quando atravessarem o caminho de uma mulher decidida, resolvida e liberal, não fiquem "cheios de dedos" para falarem a verdade. Digam logo que não estão interessados com objetividade e franqueza. É simples, prático, poupa mal-entendidos e pode até gerar uma bela e duradoura amizade. Nós não somos feitas de porcelana, não vamos quebrar por conta de algumas palavras mais duras. Afinal, suportamos a dor do parto. E quem é que não aguenta nem uma unha encravada, hein?

A Volta



Aquele era um dia muito importante para o escritor Lucas Rosaes. Depois de dois anos de muito trabalho, finalmente iria publicar seu nono livro. Ele considerava esse o mais importante de todos os que havia escrito até então, pois além da criatividade, ele havia posto ali muito de autobiografia, num misto de realidade e ficção que até hoje não tinha tido coragem de experimentar. Tudo que escreveu em seus outros livros, ou eram fruto de sérias pesquisas, ou textos indiscutivelmente ficcionais. Claro que seus livros de poesias podiam ser apontados como precursores desse gênero intimista, mas em se tratando de poemas, quem pode afirmar que o autor está ali? Sempre se pode alegar que é tudo culpa do eu poético.
O lançamento seria numa aconchegante livraria na Travessa do Paço, no Centro do Rio de Janeiro, e, apesar da sua vasta experiência, um novo lançamento sempre lhe causava calafrios. Um escritor nunca está imune às críticas, ainda mais quando envolve uma noite de autógrafos aberta ao público, nunca se sabe o que pode acontecer quando se está cercado de estranhos, sejam eles fãs ou não. O evento estava programado para iniciar-se às 19:30h.
Naquele dia acordara tarde com uma leve dor de cabeça e uma sensação de que algo iria acontecer, mas não conseguia distinguir se seria algo bom ou ruim. Tomou sua caneca de café puro e um analgésico ao som de um cd de bossa-nova. Sua esposa já havia saído para sua jornada na faculdade e só se veriam no fim do dia. Sentou no sofá e folheou o jornal sem se deter em nenhuma página. Estava inquieto. Então foi para o computador e remexeu em alguns arquivos, parando em uma pasta nomeada “Poesias da Faculdade”, ainda dava aulas nessa instituição, mas agora estava envolvido em outros projetos e as aulas eram mais esporádicas. Começou a ler as composições; riu de algumas, retocou outras, tentando lembrar o que o levou a escrever cada uma. Quase ao final da página estava uma sub-pasta: “Especiais”. Levou mais de meia hora para abrí-la porque estava protegida por uma senha que ele não lembrava mais, mas depois de várias combinações conseguiu visualizar seu conteúdo. Ali estavam algumas poesias que ele havia feito para uma de suas ex-alunas, pois hoje ela já estava formada e ele nunca mais teve notícias suas, e outras escritas por ela para ele. A temática de todas era óbvia: falavam de amor, de desejo e sexo. Sua mente viajou para aquela época, que não estava tão longe assim, dois anos talvez; quando tiveram um casinho fugaz, transaram algumas vezes e só. Ele sempre deixou muito claro para ela que não poderiam ter nada de sério, que só poderiam ser amigos e ela, sem alternativa, acatou a decisão dele. Era incrível como conseguia lembrar-se nitidamente dela, uma das melhores alunas do curso de Letras, querida pelos colegas, pelos professores e pelos funcionários e desejada por ele. Dóris tinha um excelente senso de humor que o atraía e o apavorava ao mesmo tempo; ela era meio louca e ainda assim totalmente sensata, menina e mulher, ingênua e capaz dos comentários mais libidinosos. Todas essas contradições o deixavam sem chão e faziam com que pensasse que ela era perigosa, uma ameaça a sua paz de espírito e ele não era o tipo de homem afeito às tormentas. Recordou as tardes de loucura e prazer que teve com essa mulher, porque Dóris não era nenhuma ninfeta, apesar do seu rosto de adolescente e isso era o mais enlouquecedor: a experiência naquela “carinha de anjo”.
Lucas olhou para o relógio do computador e assustou-se ao perceber que horas haviam se passado naquela sessão nostalgia e se quisesse chegar a tempo ao seu compromisso, precisaria largar aquelas lembranças e meter-se imediatamente sob o chuveiro. O banheiro já estava meio escuro e Lucas decidiu que não ia acender a luz para tomar seu banho. Pôs os óculos sobre a pia, abriu a ducha quente e entrou no box. Podia sentir a presença de Dóris ali com ele. Ela adorava fazer isso no motel, tomar banho às escuras, dizia que aguçava os sentidos dos amantes e então faziam amor sob a água, com os corpos ensaboados. Imediatamente desligou o chuveiro e acendeu a luz. Vestiu o roupão e fez a barba. Sua esposa tinha separado toda a sua roupa para o evento e ele, não sabia se por gratidão ou comodismo, obedeceu à escolha. Verificou se estava tudo em ordem, pegou as chaves e saiu. Àquela hora a Avenida Brasil já devia estar um inferno e ele teria que enfrentar um engarrafamento cretino até chegar ao Centro. Maldita Dóris.
A livraria estava lotada. Alunos, colegas de profissão, escritores e familiares dividiam o ambiente aconchegante, com uma iluminação sofisticada e boa música, aguardando a chegada de Lucas Rosaes. Nas mesas e nas poltronas espalhadas pelo recinto rolavam conversas animadas e alguns já aproveitavam para iniciar a leitura de “Cinematografia amorosa: uma canibalização do sentimento”. Apesar do nome pomposo, o livro nada tinha de complicado, era apenas uma coletânea de crônicas, contos e poemas entremeados com pequenas análises psicológicas do comportamento humano frente ao amor em suas múltiplas formas. Quem lê pensa que Lucas é um expert no amor, mas não é preciso viver tudo o que se escreve para escrever bem sobre algo; basta, muitas vezes, ser um bom observador.
De repente ouve-se um burburinho e todos se voltam para aplaudir a entrada da estrela da noite. Sua esposa e o dono da livraria, Sérgio de Barros, um amigo dos tempos da universidade, vêm recebê-lo e acompanhá-lo até a mesa onde serão autografados os livros. Lucas Rosaes cumprimenta vários conhecidos e no caminho intercepta um garçom para servir-se de uma taça de espumante. Precisava relaxar, hoje estava mais tenso que o de costume nessas ocasiões. Enquanto posa para algumas fotos, uma longa fila de pessoas com seu livro em mãos aguarda pacientemente a sua vez de parabenizar o autor e recolher sua dedicatória. Lucas procura ser simpático com todos, conhecidos ou não, mas depois de uma hora seus dedos já começam a se ressentir do movimento repetitivo, os olhos ardem e a cabeça já está funcionando no automático. Não que fosse um escritor de grande fama, mas a sua atuação na mídia tecnológica lhe rendia uma certa notoriedade e a conquista de um grande círculo de leitores de todas as idades.
Aquela altura do campeonato, como dizem, seu cérebro já não fazia mais questão de registrar os rostos que lhe sorriam do outro lado da mesa. Respondia aos elogios com um sorriso tímido, sua marca registrada, e um “muito obrigado”. Não ergueu a cabeça para pegar o próximo livro da fila que era depositado suavemente em suas mãos por dedos longos e femininos. Por um instante levantou os olhos e perguntou:
— A quem devo dedicar?
— Pode ser “À minha melhor aluna...” – respondeu a mulher.

Por alguns segundos Lucas ficou petrificado, não podia acreditar que ela estava ali, na sua frente, depois de tanto tempo de ausência e justo hoje quando seus pensamentos vaguearam pelo passado.
— Dóris? É mesmo você?
— Você já teve alguma outra aluna tão boa quanto eu? – sorriu.
— Nossa, quanto tempo!
— Realmente... tempo demais.
— Tudo bem com você?
— Eu estou bem, mas acho que as pessoas aqui atrás de mim não vão ficar tão bem se nós engatarmos um papo agora. – brincou Dóris.
— Você tem razão. Acho que nem eu, já estou esgotado. Você vai embora agora?
— Não. Vou dar uma circulada por aí, acabei de chegar.
— Então nos falamos daqui a pouco, ok?
— Tudo bem. Capricha na dedicatória, como nos velhos tempos.

Pegou seu livro e seus dedos se tocaram. A conhecida eletricidade tomou conta de ambos. Agradeceu e cumprimentou a esposa de Lucas com um levíssimo aceno com a cabeça e um meio sorriso nos lábios. Os olhos de Lucas a acompanharam até perdê-la na multidão. Retomou os autógrafos mecânicos até o último leitor. Ao lado de sua esposa comeu alguma coisa e conversaram com alguns amigos que vieram comentar o livro. Com o pretexto de procurar um garçom que servisse água com gás, deixou-a em uma roda de amigos da faculdade e saiu para procurar Dóris, que não estava visível em lugar algum. Já estava achando que ela tinha ido embora quando ouviu sua voz inconfundível:
— Você deveria saber que estes saltos estão me matando.

Lucas olhou para uma poltrona em um canto da livraria meio afastado das pessoas, e lá estava ela em um vestido vinho de linhas básicas e decote insinuante e sandálias de salto agulha. Linda com aqueles olhos verdes destacados pela maquiagem e a boca carnuda com um leve brilho de gloss, que parecia convidar ao beijo.

— Desculpe a demora, mas a fila estava insuportavelmente longa.
— Além do mais, sua esposa precisava de um pouco de atenção.
— Verdade.
— Você não gostaria de sentar um pouco? Desse jeito eu vou ganhar além das bolhas nos pés, um belíssimo, e não menos incômodo, torcicolo.
— Claro. Mas no seu colo?
— Inadequado, mas delicioso.
— Dóris não provoque...
— Só posso te oferecer o braço dessa poltrona.

Lucas aceitou.
— Então Dóris, o que você tem feito? – perguntou um pouco nervoso.
— Revisando seu texto.
— Não entendi.
— Estou trabalhando como revisora na Editora A Malta.
— Sério? Então você leu meu livro antes de todo mundo?
— Privilégio para poucos.
— E o que achou?
— Maravilhoso como sempre e mais sincero também.
— Como assim, mais sincero?
— Senti um caráter autobiográfico que não estava presente nos livros anteriores.
— Caráter autobiográfico não quer dizer sinceridade. – rebateu Lucas.
— Ponto de vista discutível, que ficará para outra ocasião. Preciso ir embora agora. – respondeu Dóris já se levantando da poltrona. — Fique com o meu cartão, para o caso de você já ter esquecido o número, e me ligue. Tenho uma proposta profissional para te fazer.
— Proposta? Sobre o quê?
— Telefone e você vai ficar sabendo.

Dóris inclinou-se para beijar-lhe o rosto, revelando parte dos seios. Caminhou sinuosa pela multidão, que ainda tinha a esperança de conversar com o astro da noite, e desapareceu porta afora. Lucas ficou ali, olhando para aquele cartão, sem saber se o guardava no bolso ou jogava fora na primeira lixeira, não percebendo a aproximação de sua esposa.

— Lucas, algum problema, meu bem?
— Ahn? Não, nada.
— Você está aí, parado, segurando esse cartão. De quem é?
— Hmm. De uma representante de uma editora querendo fazer uma proposta.
— Ah. Guarda, amanhã você pensa nisso.
— É. É melhor mesmo.

Uma semana se passou até que Lucas conseguisse superar seus temores, mas agora estava decidido a descobrir qual era a proposta de Dóris. Pegou o telefone e discou o número. Nem precisou olhar para o cartão. Desejou que ela não estivesse em casa.
— Alô? – atendeu aquela voz familiar.
— Alô. Dóris?
— Sim. Quem está falando?
— Sou eu, Lucas.
— Ah, oi Lucas! Tudo bem?
— Tudo. E você?
— Tudo bem. Quem ventos o trazem até mim?
— É sobre a sua proposta. Estou curioso pra saber o que é.
— Olha, eu teria o maior prazer em lhe falar sobre isso, mas infelizmente tenho um compromisso agora e preciso sair em cinco minutos. Podemos marcar um encontro para falarmos sobre esse assunto pessoalmente?
— S-sim. Quando?
— Vamos fazer o seguinte: eu não estou com cabeça para pensar em um lugar nesse momento, então vou te dar a primazia da escolha, como sempre. Pense no que for mais conveniente pra você e me avise. Se nossos horários combinarem...
— Certo. Eu vou pensar e te dou um jeito de te avisar.
— Beleza, meu anjo. Sei que você odeia, mas o melhor jeito de me comunicar é o SMS, tá?
— Tá. Tudo bem. Eu vou tentar me entender com o celular. – Lucas respondeu entre risos.
— Então tá, meu amor. Vou desligar, preciso ir. Beijos.
— Tchau. Beijo.

Dóris continuava a mesma. Era como, se por um momento, o tempo tivesse voltado atrás com ela lhe chamando de “meu amor”. Com certeza tinha saído sem pensar, na pressa. Ela devia estar fazendo alguma outra coisa enquanto falava ao telefone e quando é assim nem se percebe o que se está dizendo. Olhou para o relógio e já estava na hora da sua aula. Trancou a sua sala e desceu pelas escadas até a turma T1. Ao final do dia enviou uma mensagem sugerindo um café discreto nas imediações da Tijuca, com dia e hora. Recebeu uma confirmação depois de uns dez minutos. Pronto. Agora já estava feito. Era só esperar pra ver.
No dia combinado, Lucas chegou ao café com uma certa antecedência, apesar de ter pensado em várias alternativas para “escapar” do encontro. Sentou-se à uma mesa no fundo do recinto e ficou observando o movimento. Pediu um expresso ao garçom. De repente, ela chegou. Cabelos soltos, uma calça jeans clara e uma camiseta branca, sandália de salto e uma bolsona. Por que será que as mulheres adoravam essas bolsas enormes? Pensou enquanto Dóris se aproximava da mesa. Ele nem precisou sinalizar para indicar onde estava, ela o havia detectado antes mesmo de cruzar a soleira da porta. Caminhava com segurança e desenvoltura por entre as mesas.
— Oi Lucas! – contornou a cadeira e deu-lhe um beijo no rosto enquanto ele se levantava. – Não se incomode, pode sentar.
— Oi Dóris! Como você está?
— Muito bem. E você?
— Também estou bem. Já estou tomando um expresso. O que você gostaria de tomar?
— Um chá está ótimo.
— De quê?
— Pode ser de maçã.

Lucas chamou o garçom e fez o pedido.
— Pois bem, aqui estamos novamente. Estou curioso.
— Então vou direto ao assunto. Lembro que na época da “facul” você escreveu um livro em parceria com um aluno.
— Sim. Foi um livro de contos.
— Exato. Não sei se lhe rendeu frutos, mas com certeza foi um grande estímulo ao meu colega. O que eu vou pedir vai ser mais benéfico para mim do que para você. Eu mandei alguns contos para uma editora. Eles se interessaram, mas disseram que ainda eram insuficientes para publicação devido à quantidade. Falaram que quando eu tivesse uma produção maior podia entrar em contato novamente. O que é plenamente compreensível. Quando eu os enviei, estava mais interessada em avaliar a qualidade da produção. Mas agora a vontade de publicar cresceu dentro de mim... Bem, o que eu queria é que você fosse meu parceiro nesse livro.
— Eu? Mas por que eu?
— Porque eu conheço a qualidade dos seus textos. Conheço suas poesias e seus contos. Adoro todos. E acho que nossos textos dialogam. A gente tem “química”. – arrependeu-se desta última frase. Tinha jurado não desenterrar o passado. Por si mesma e por ele.
— E sobre o quê são os seus contos?
— O tema é nosso velho conhecido.
— Ah, tá. Bem, eu nunca escrevi nenhum conto desse gênero.
— Eu , pelo menos, nunca li nada seu nessa linha.
— Pois é. Como é que eu vou entrar nisso??
— Eu pensei que você poderia contribuir com as suas poesias...
— Olha, Dóris, seus contos são muito legais, mas são bem fortes. A linguagem não chega a ser vulgar, mas é bastante contundente e...
— Lucas, tudo bem. Foi só uma proposta. Você pode ficar à vontade para recusar, ok? Eu acho suas poesias o máximo e quando falam de amor são capazes de tirar meus pés do chão. Eu achei que, por você ser mais refinado, isso daria um equilíbrio ao livro.
— Dóris, eu não estou me recusando, só fui surpreendido pela proposta. Vamos fazer o seguinte: eu vou pensar, tentar escrever alguma coisa que se alinhe com você e aí nós voltamos a conversar. Tá bom assim?
— Certo. Acho que podemos pedir a conta. Não quero mais tomar o seu tempo.
— Calma. Você ficou chateada?
— Não. Só não quero te atrapalhar mais. Imagino que você tenha uma porção de coisas pra fazer ainda, só pra variar. – respondeu nervosa. Já estava sentindo suas defesas ruírem.
— Engano seu. Eu marquei hoje porque, por incrível que pareça, não tenho mais nenhum compromisso.
— Nossa! Isso é um milagre! Há algum tempo atrás eu rezaria por isso!
— E desde quando você foi de rezar? – Lucas perguntou, em tom de brincadeira.
— Desde quando te conheci.

Lucas tocou a mão de Dóris, que estava sobre a mesa. Seus dedos se entrelaçaram e seus olhos se encontraram. Ela foi a primeira a fugir do contato visual. O garçom trouxe a conta, pagaram e saíram. Ao despedirem-se, na porta, o desejo falou mais alto e seus lábios se encontraram. Entraram em um táxi e foram ao único lugar que comportaria aquela paixão.
Despiram-se lentamente, com suavidade, com ternura. Dóris o beijava cheia de amor, um amor sufocado, recolhido; passava os dedos pelo seu rosto, pelos seus cabelos e puxava Lucas para si. Guiava a mão de Lucas pelo seu corpo, virando-se de costas para que ele a tocasse. As mãos dele passeavam pelos seios e pelo sexo dela, sentido a vibração e a umidade, brincando com os mamilos entumescidos, ao mesmo tempo em que sentia seu pênis crescendo ao contato com a bunda de Dóris. Ela gemia de prazer em seus braços. Foram andando, assim grudados, até a cama. Dóris se deitou e recebeu Lucas sobre seu corpo; suas pernas se abriram para encaixar os quadris dele. A vagina estava pronta para receber seu membro rijo, molhada e quente. Dóris chamava seu nome baixinho, entre gemidos e gritos de êxtase enquanto Lucas a penetrava vigorosamente. A cada estocada ele se derretia e sentia que o gozo se aproximava. Aumentou a velocidade até sentir que seu leite se espalhava dentro de Dóris, que estremeceu ao receber o jorro quente. Tinham atingido o orgasmo juntos e agora relaxavam nos braços um do outro.
Lucas se levantou para ir pegar uma água no frigobar e perguntou se ela queria alguma coisa. Dóris pediu uma Coca-Cola. Quando retornou, ela estava ajoelhada no colchão com os cotovelos apoiados na borda da cama, mexendo no rádio; o traseiro virado na direção de Lucas, praticamente se oferecendo para ele. Era irresistível. Pousou as bebidas numa mesa próxima e passou as mãos pelo cabelo para secá-las. Aproximou-se silenciosamente e enlaçou Dóris pelo ventre, puxando-a para si. Com a outra mão começou a masturbar-se, para enrijecer seu pau rapidamente. Ela fingiu protestar, mas com uma das mãos alcançou a bolsa. Abriu-a e retirou um tubo de K-Y. Abriu-o e o entregou à Lucas, que besuntou seu ânus com o gel. Aos poucos foi pressionando a cabeça do seu pênis contra o orifício até conseguir a penetração total. Dóris massageava seu clitóris e conduziu uma das mãos de Lucas para brincar em sua boceta, fazendo com que a penetrasse com os dedos. Estava indo à loucura, tocando seu pau através da membrana que separava os órgãos e ela, com a sua mão sobre a dele, pedia mais e mais. Gozaram novamente entre beijos, lambidas e sussurros.
Já eram quatro da tarde e decidiram tomar um banho para revigorar, pois estavam exaustos. Dóris ligou a hidromassagem e em poucos minutos a banheira encheu-se de espuma e água quente. Lucas sentou-se primeiro e Dóris encaixou-se entre suas pernas, apoiando a cabeça no seu ombro direito e apoiando os braços em suas pernas fortes. Lucas mantinha o braço direito na borda da banheira e passou o esquerdo sob o braço de Dóris para que pudesse acariciar os pêlos pubianos dela. Fundiram-se em um beijo longo e cheio de carinho.
Ao saírem do banho, perceberam que a tarde estava acabando e decidiram que já era hora de irem embora. Vestiram-se e Lucas pediu à recepção para encerrar o período. Aquela tarde havia sido uma bolha de ilusão maravilhosa, mas agora a realidade os chamava de volta.

“Na vida a gente só deve lamentar o que deixou de fazer” .(Jean Cocteau)

domingo, 4 de outubro de 2009


Você diz pra não dar bandeira

Mas eu já dei um outdoor

E o que é pior

Te dei meu coração.


Você não tá nem aí

Também não está aqui

Pisa nas minhas flores

Estraga o meu jardim.


Não quer nada de mim

E o que eu quero de você

É coragem


domingo, 27 de setembro de 2009

Quando Chove


(Patrícia Marx)


Quando olho nos teus olhos

Não vejo a luz do amor

Só as sombras do passado

só um fogo que se apagou


A vida é assim

nosso espelho se quebrou

é hora de se guardar

os segredo no coração


Se chove lá fora

queima aqui dentro

de vontade de te abraçar

Amor quando chove

fica mais triste esperar

por alguém que não vai chegar


Quando ouço teu silêncio

escuto meu coração

Bater apressado e urgente

te querendo sem querer

cansado de sofrer

Mas agora já é hora

dessa chuva ir embora

As sem-razões do amor



(Carlos Drummond de Andrade)





Eu te amo porque te amo.


Não precisas ser amante


E nem sempre sabes sê-lo.


Eu te amo porque te amo.


Amor é estado de graça


E com amor não se paga.



Amor é dado de graça.


É semeado no vento.


Na cachoeira, no eclipse.


Amor foge a dicionários


E a regulamentos vários.



Eu te amo porque não amo,


Bastante ou demais a mim.


Porque amor não se troca,


Nem se conjuga, nem se ama.


Porque amor é amar a nada,


Feliz e forte em si mesmo.



Amor é primo da morte,


E da morte vencedor,


Por mais que o matem (e matam)


A cada instante de amor.

sábado, 26 de setembro de 2009

Te amo e .




Você não me leva a sério
Porque eu digo que te amo
E você se pergunta:
Como eu posso te amar?



Eu poderia te dizer
Que se nem Drummond sabe
Por que eu deveria saber,
Se o amor é sem-razão?



Eu sei que adoro te olhar,
Ver o seu lindo e tímido sorriso.
Ouvir sua voz
Falando do que lhe é tão caro,
Filosofando sobre a Literatura,
Literalizando a Filosofia.



Tenho vontade de te pôr no colo
E cantar para te ninar.
Aninhar-te nos meus braços
E te fazer cafuné.



Beijar a tua boca com doçura
E provar tua pele
Ler teu corpo com a ponta dos dedos
E me impregnar com teu cheiro.



Quero muito e tão pouco!
Quero te fazer feliz,
Quero que você me deixe fazer isso.
Quero estar ao seu lado
Quero sua atenção
Quero entrelaçar nossos dedos e nossos corpos.
Quero dizer ao seu ouvido:
Eu te admiro, te respeito,
Te adoro, te desejo,
TE AMO.

domingo, 20 de setembro de 2009

Gataryn


— Mas eu não entendi o que a Física Quântica tem a ver com a Literatura?
Era muito difícil acompanhar as viagens mentais que o professor Gataryn fazia; no entanto, Samarah não conseguia desgrudar os olhos dele, parecia que o cara era magnético e, quanto mais ele falava, mais paralisada ela ficava, tal qual uma Naja suspensa sobre si pela música de um encantador de serpentes. Ao fim da aula todo o seu corpo formigava e a cabeça latejava. Nas primeiras aulas achava que era por causa da timidez de ambos, mas aos poucos foi percebendo que seu corpo reagia a uma troca intensa de energia.

Era muito difícil acompanhar as viagens mentais que o professor Gataryn fazia; no entanto, Samarah não conseguia desgrudar os olhos dele, parecia que o cara era magnético e, quanto mais ele falava, mais paralisada ela ficava, tal qual uma Naja suspensa sobre si pela música de um encantador de serpentes. Ao fim da aula todo o seu corpo formigava e a cabeça latejava. Nas primeiras aulas achava que era por causa da timidez de ambos, mas aos poucos foi percebendo que seu corpo reagia a uma troca intensa de energia. (...)

Naquela segunda-feira chovia torrencialmente, Samarah estava parada na entrada da faculdade pensando no método menos molhado para chegar a sua casa sem um guarda- chuva. Então ouviu aquela voz dizendo: “Oi Samy!”. Ele estava parado às suas costas chamando-a pelo apelido com o qual seus colegas a batizaram. Demorou uns cinco minutos — que bem pareceram séculos — para responder:
-- Oi Gatary!
-- O que você está fazendo aí parada?
-- Traçando um plano de fuga razoavelmente seco!
Riram.
-- Você quer uma carona? – perguntou o professor.
-- Você está indo para onde? Não quero te atrapalhar.
-- Vou para o Centro, posso te deixar em algum lugar mais protegido. Onde você mora?
-- Botafogo, mas no Centro já tá bom pra mim.
-- Vem.
Iria com ele até o inferno se ele quisesse. Entraram no carro. Samarah perguntou o que ele iria fazer no Centro e enveredaram em mais um papo “cult”. Quando o assunto ia morrer em um daqueles silêncios constrangedores, Samarah indagou:
-- Sem querer abusar, posso colocar uma música?
-- Claro. O que vai ser?
-- Aguarde e confie. – respondeu Samarah.
Abriu a bolsa e retirou seu indefectível MP3, introduziu-o na entrada USB do rádio e selecionou a pasta.
-- Você não vai colocar as minhas aulas, não? – perguntou Gataryn assustado.
-- Não seu bobo! Eu disse música. Não que suas aulas não sejam música para os meus ouvidos. – respondeu rindo e pousando a mão sobre a perna do professor.
Deixou-a, maliciosamente, ali, sobre aquela coxa rija. Olharam-se enquanto o som de “One” do U2 preenchia o ambiente. Podia sentir a tensão e o tesão naquele contato enquanto Gataryn olhava fixamente para o trânsito. Quando o carro parou em um sinal vermelho, o nível de energia já tinha atingido o seu auge e explodiu em um beijo enlouquecido. Línguas, dentes e lábios em um frenesi, devorando-se com avidez. Só pararam quando ouviram o coro das buzinas enraivecidas. Faltava paixão às máquinas.
Naquele momento não era preciso nenhuma palavra, ambos sabiam o que queriam. Necessitavam perderem-se um no outro, descobrirem seus corpos. Rumaram para um motel na Glória. Tatearam-se e beijaram-se no elevador, no corredor, mal conseguindo abrir a porta da suíte.
Ao girar a chave na fechadura pelo lado de dentro, Gataryn afastou-se e olhou demoradamente para Samarah, ali, entregue, linda, ofegante e suada, mal acreditando que a teria nos braços, que ela QUERIA ser sua. Aproximou-se, beijou-a ternamente no pescoço, na boca, no rosto enquanto desabotoava sua blusa, expondo o sutiã de renda que deixava entrever os mamilos excitados.
Samarah retribuía apaixonadamente às carícias e despia lentamente aquele homem. Sua cabeça rodopiava, seu corpo estremecia ao toque daquelas mãos e ao contato daqueles lábios quentes e macios. Abraçados
jogaram-se na cama.