domingo, 29 de novembro de 2009

A Libertina (continuação)


Com todo o cuidado para não machucar, Paola retirou o pênis, agora adormecido, de dentro de sua vagina e caminhou, nua e ainda com as pernas bambas, em direção ao rack onde guardava sua câmera fotográfica. Ao virar-se, pôde notar a tensão estampando-se no rosto de Caio e disse:
— Amor, você tem certeza que quer essa mudança?
— Cl-claro.
— Olha, uma mudança desse calibre precisa vir da sua vontade e não de uma necessidade de momento. Você tem que querer passar por tudo isso, não dá pra fingir que vai mudar. Pode ser um processo muito doloroso, especialmente para você.
— Paola, eu quero! Você é assim, então eu também posso ser...
— Você tem razão: eu sou assim, mas eu não nasci assim. Foi um aprendizado que eu iniciei ainda muito jovem. O ser totalmente livre de amarras sexuais não aconteceu do dia para a noite; foi difícil, eu sofri no início, chorei muito quando me obrigava a fazer algo que me violentava, mas ao longo dos anos minha mente foi se abrindo. Você também vai sofrer, você também vai chorar...
— Foda-se! Já disse que eu quero isso! Você não vai utilizar essa minha fraqueza como desculpa para se livrar de mim, ok?
— Ok. A motivação está totalmente equivocada, mas “sua cabeça, seu mestre”... – respondeu resignada. – Vamos começar pelas fotos, então.
— O que eu tenho que fazer?
— Feche os olhos e imagine que você está querendo me deixar excitada, me mostre como você é gostoso; como seu sexo é fabuloso, como ele fica apetitoso quando você se masturba e me ofereça ele.
Caio obedeceu, mas não sem algum constrangimento. Começou a acariciar seu pau adormecido com um certo pudor e delicadeza, mas à medida que ia ficando excitado, seus movimentos ficavam mais vigorosos. O corpo escorregou um pouco no sofá e ele abriu as pernas para exibir melhor a piroca para a lente de Paola, que fotografava freneticamente. Suavemente disse:
— Amor, com a outra mão acaricie seu escroto e não pare até gozar...quero fotografar seu leite saindo do seu pau e escorrendo por ele.
A situação atingiu o clímax quando o sêmen jorrou do pênis de Caio, que gemia de prazer, e acertou a lente da câmera que clicava um close do membro. Paola não pode mais aguentar, largou a máquina sobre a mesa de centro e colou seu corpo ao dele. Beijou-o da cabeça aos pés, cheia de ternura; envolveu-o em seus braços e ficaram assim, quietos, ouvindo a respiração um do outro, até adormecerem.
Acordaram bem-dispostos e alegres. Tomaram um banho. Paola, ainda com o corpo úmido, foi para a cozinha fazer o café, enquanto Caio fazia a barba. Ainda sentiam a volúpia da noite passada e, como andavam nus pela casa, fizeram amor de pé, encostados na parede do corredor. Com muita relutância vestiram suas roupas e Paola foi para a agência. Caio, por ser dentista e ter consultório próprio, tinha uma folga maior no horário. Aproveitou para ir até o seu apartamento e trocar de roupa. Seu sócio ficaria lhe aporrinhando o dia inteiro se ele aparecesse no consultório com a mesma indumentária e o cabelo molhado! Durante o trajeto até o trabalho, em Ipanema, foi relembrando como ele e Paola haviam se conhecido. Ela tinha ido ao consultório, por indicação de uma outra dentista, para fazer um tratamento de canal. Não passou despercebida: morena, olhos claros, divertida; suas roupas ora revelavam suas pernas, ora seu colo, ora suas curvas e escondiam muito mais. E muito cheirosa! A princípio, achava que ela nutria um interesse pelo seu sócio, mas como ela tratava ambos com a mesma naturalidade e a mesma malícia, ficava sempre na dúvida. Aos poucos ela foi deixando pistas de que, na verdade, sentia uma atração por ele, Caio. Eram olhares insinuantes, frases picantes, um deixar-se tocar... Quando se deu conta de que já havia chegado ao consultório, a garagem tinha ficado para trás e teve que dar a volta no quarteirão.
Na agência todos já sabiam que Paola tinha tido uma excelente noite, pois ela estava relaxada, de excelente humor, tirando de letra todos os “pepinos” que surgiam. Quase ao final do expediente o telefone celular tocou. Paola demorou alguns segundos para atender, pois o aparelho estava escondido sob uma pilha de papéis na sua mesa.
— Alô?
— Alô! Paola?
— Sim. Quem é?
— Oi! Sou eu, Eduarda Chiavenatto.
— Ah! Oi, Duda! Como vai?
— Tudo bem. E você?
— Tudo ótimo.
— Paola, eu estou te ligando para saber se você teria um tempinho para me mostrar as suas fotos? Eu estou muito interessada.
— E você já está voltando para São Paulo?
— Embarco no final da semana.
— Então, que tal marcarmos para depois de amanhã, quinta-feira?
— Por mim está perfeito.
— Certo. Você se importa se um amigo meu estiver presente? Ele também quer ver as fotos.
— É... Não, tudo bem. – Eduarda respondeu meio vacilante.
— Maravilha! Vou fazer um queijos e vinhos pra gente. Gosta?
— Depois daquele macarrão aos quatro queijos do nosso almoço, nem dá para dizer que não gosto, não é?
— Então estamos combinadas. Anota meu endereço.
(Continua)

domingo, 22 de novembro de 2009

Mediocridade


Coisa mais triste é a mediocridade. Não falo daquela existência mediana que todos nós temos, uma vez que é natural que poucos se destaquem nesse mundo imenso, mas sim daquela mediocridade que se ocupa unicamente da vida alheia. Esse tipo de pessoa torna a sua própria existência em algo tão pobre, tão pobre, que repele quem a rodeia, pois ninguém suporta quem se alimenta exclusivamente de outrem.
Imagine só como deve ser insignificante o dia-a-dia de alguém que se atém aos acontecimentos da vida de outra pessoa! O cotidiano deve ser muito limitado para que este indivíduo só fale, só cite um fato ocorrido externamente. Será que em sua vida não há nada de bom para ser comentado? Será que sua vida é tão enfadonha assim? Será que esta pessoa é incapaz de suscitar emoções ou produzir acontecimentos empolgantes? Ou será que corre aí um fio de inveja, de veneno?
Muitas pessoas reclamam que sempre estão sozinhas, que não conseguem um companheiro, que não têm amigos, que não têm em quem confiar e não é para menos! Você leitor (a) confiaria em alguém que fica explanando a vida dos outros aos quatro ventos sem nenhum propósito que não o de se exibir (nesse caso, negativamente)? E namoraria um espécime desse tipo? Posso apostar minha capacidade de escrever como a resposta – pelo menos das pessoas sãs – é: NÃO!
Sabe, essas pessoas que têm a língua maior que a boca, e que nós conhecemos como fofoqueiras, possuem um energia que parece mais um jato de Baygon: são altamente repelentes. Ademais, muitas vezes, acabam provando do próprio remédio e se dão muito mal. Conversando sobre esse assunto, entre um chopp e outro, com um amigo, este me contou um caso verídico que ocorreu na faculdade onde ele estudava, no seu 6º período do curso de Direito. Vou relatar o episódio utilizando nomes fictícios para facilitar a compreensão do leitor. A turma desse meu amigo era muito unida, pois já conviviam desde o primeiro período, apesar de alguns atritos normais a um contato diário, todos se respeitavam e se ajudavam; quando surgia algum problema, todos se mobilizavam para solucioná-lo e se este era de foro íntimo, não transpirava para o resto da instituição. Segundo esse meu amigo, sua turma sempre foi cordial com os “intrusos”, mas não lhes permitia fazer parte da intimidade construída. Um belo dia, um casal de alunos mais antigos, Marta e Fábio, foi visto por um desses intrusos, Pedro, nas escadas da faculdade e de acordo com a dupla, seguindo em direções opostas. Isso foi o bastante para Pedro tirar suas próprias conclusões e durante as aulas passar a fazer insinuações maldosas que denegriam a reputação de Marta, causando um constrangimento geral. Ela era muito querida e respeitada por todos: alunos, professores e funcionários; era generosa e camarada, sempre pronta a ajudar quem quer que fosse; estava sempre de bom humor e seu comportamento era irrepreensível; além de ser uma das melhores notas da faculdade! Pois bem, Pedro continuou com as brincadeiras sem-graça e não satisfeito em fazê-las dentro da turma, resolveu divulgar o caso para o resto da instituição; o curioso é que as indiretas eram sempre lançadas à Marta e nunca ao Fábio. Pedro começou a baixar o nível dos comentários, insinuando que teria visto a dupla em atitude libidinosa. Foi a gota d'água. Marta, humilhada, procurou a Justiça e entrou com um processo por calúnia e difamação contra o Pedro e ganhou a causa, obrigando-o a pagar uma indenização por danos morais e as custas do processo. Mais tarde, ficou-se sabendo que o motivo que levou o infeliz a fazer tais afirmações foi o despeito, pois ele estava interessado em Fábio e havia sido solenemente rechaçado; então, por frustração e vingança, resolveu atingir Marta, que estava na escada desabafando um problema familiar com Fábio e não queria que ninguém os ouvisse. O fato é que depois de tudo isso, Pedro passou a ser considerado como persona non grata; quando se aproximava de um grupo que estava conversando animadamente, este se desfazia para não ter que incluí-lo no bate-papo; passou a fazer os trabalhos sozinho, pois ninguém o queria nos grupos, etc.
Este episódio me deixou estarrecida e revoltada! Esse Pedro (e gente como ele) é um ser desprezível e asqueroso, com uma vida absolutamente medíocre. Que culpa as pessoas têm se ele levou um passa fora? E se ele é vulgar? Quem vai se interessar por uma pessoa cuja vida é tão oca que a única coisa interessante que tem para falar são os acontecimentos dos outros e dos quais ele sequer faz parte??? O meu consolo é que a vida se encarrega desse tipo de gente, dando-lhes o castigo que merecem: desprezo e solidão.
Não estou dizendo que não se pode comentar sobre o vestido da fulana na festa, ou o fora que beltrano levou, ou mancada que sicrano deu – pois ninguém está fazendo concurso para santo e nem vestibular para freira ou monge –, desde que não ultrapasse os limites, não magoe e nem prejudique ninguém e não seja o único tema da sua pauta, porque aí ninguém aguenta! Abaixo a MEDIOCRIDADE, já!
PRA BOM ENTENDEDOR MEIA PALAVRA BASTA...

domingo, 15 de novembro de 2009

Para Edu

Você que sem pedir licença
Invade meus pensamentos
Invade meus sonhos.

À você que eu
quero em meus braços
Ofereço minhas mãos
Ofereço meu colo.

Você que precisa de bálsamo
para a alma,
De mel para a boca,
De carinho para o coração.

Peço licença para cruzar seu caminho,
Peço permissão para entrar na sua vida,
Peço seu consentimento para fechar as feridas.

sábado, 14 de novembro de 2009

Separações


Pouca coisa no mundo há de mais complicada do que uma separação. Por mais que seja desejada, planejada, acordada e, sobretudo, necessária, sempre é um momento desolador. Às vezes queremos nos livrar daquela pessoa o mais rápido possível, queremos ver o diabo e não queremos vê-la; às vezes queremos lhe perdoar todas as falhas, abraçá-la e fazer as pazes. E por mais que essa pessoa nos tenha magoado, ferido; no fundo (bem no fundo!), temos a esperança de que as coisas voltem ao normal, ao início do relacionamento, quando tudo eram flores. Infelizmente, em alguns casos, essa volta no tempo não é mais possível e resta apenas aquele gosto amargo de fracasso.
Lembrei, agora, de uma música muito antiga e, confesso, meio brega, que fez muito sucesso na voz de Márcio Greyck, e que dizia: “[...]Quantas vezes nos dissemos eu te amo prá tentar sobreviver./Aparências nada mais,/sustentaram nossas vidas,/Apesar de mal vividas /têm ainda uma esperança de poder viver./[...]”. Sobreviver??? Isso é algo que nós fazemos todos os dias no mundo, mas o que queremos mesmo é VIVER! Queremos ser felizes, rir, ser amados, amar, estar com os amigos, sentir a brisa no rosto numa tarde de verão, olhar o pôr-do-sol em boa companhia, tomar um chopp e jogar conversa fora. E é hora de questionar se vale a pena viver só de aparências. Temos tanto potencial para ser desperdiçado com uma existência apática?!
Deve-se levar em conta que, muitas vezes, a separação parece irreversível, mas depois que a poeira baixa, vê-se que a ferida não é tão funda assim. Portanto, não é aconselhável tomar nenhuma medida de cabeça quente. Não se precipite escolhendo uma nova pessoa para substituir quem se foi, só para preencher um vazio no coração e na cama. Dizem que um velho amor se cura com um novo; pode até ser, mas é preciso muito cuidado para não magoar alguém que não tem culpa de nada. Não estou dizendo que não se deve procurar uma companhia agradável que faça esquecer os problemas e ajude a levantar o astral, muito pelo contrário; a única recomendação é que se seja absolutamente franco e que a situação seja a mais clara possível para ambos.
A separação é um processo natural da vida, todos passamos por ela – e quem ainda não a enfrentou em quaisquer de suas formas, esteja certo de que um dia estará frente a frente com ela, – pois ninguém é propriedade privada do outro. Todos cometemos erros na intenção de acertar e continuaremos assim por toda a existência; então, àqueles que se separaram, aconselho que continuem buscando a felicidade, seja com outra pessoa, seja com a mesma, seja até sozinho. Vão ao cinema, assistam a um filme bem romântico, passeiem à beira-mar, namorem bastante e acima de tudo: VIVAM E DEIXEM VIVER!

Foda-se a celulite!


Recentemente, fui ao médico para examinar uma desconfortável sensação de peso nas pernas, que se intensifica com as altas temperaturas do nosso paradisíaco Rio de Janeiro. Após o exame dos meus membros inferiores, o especialista saiu com a seguinte frase: “Você não pode engordar mais, hein? Cuidado com as estrias!”. Ah, fiquei furiosa e se não fossem os cabelos brancos do médico e a boa educação que minha mãe me deu, eu o teria mandado à merda (de barquinho sem remo)! Era a primeira vez que ele estava me vendo; além do mais, ele era angiologista e não dermatologista. Se eu estivesse procurando um tratamento para a pele, teria buscado a segunda especialidade e se estivesse preocupada com o meu peso, procuraria um nutricionista. Lógico, não?
E qual o problema se eu tenho estrias? E se eu tenho celulite? A Carolina Dieckmann também tem e nem por isso a consideram um monstro. Parece que a mulher só vale pela sua aparência, pelo seu corpo – que tem que ser escultural, senão a infeliz está fora do sistema. E quando eu digo fora do sistema é fora mesmo: alguns quilinhos a mais te usurpam um emprego, um namorado e até um lugar ao sol na praia. Se a mulher está com um pouco de culotes e coloca um biquíni, pra começar que os homens nem olham e as saradas ficam só “tesourando”. Se tiver celulite também, já corre o risco de ser chamada de lua (por conta das crateras) e se a barriga fizer uma discreta dobra sobre a calcinha, pronto: será a “baranga” da praia!
Eu assumo mesmo que tenho estrias, celulite, a carne não é mais tão firme como há vinte anos atrás, o abdômen prefere a máquina de lavar ao tanquinho, mas e daí? Eu não sou apenas meu corpo, sou muito mais do que isso: sou minhas experiências, sou o conhecimento adquirido através de anos de estudo, sou as amizades que faço, sou os valores que construo, sou meus sonhos, sou o prazer que posso proporcionar ao outro com meu amor e não só com o meu sexo (e com ele também!), sou a minha inteligência e minhas aptidões, sou minhas qualidades, sou minha alegria, sou meu senso de humor, sou minha competência no trabalho e sou muito mais... Por que tenho que ser vista só como uma “casca de laranja” com alguns veios esbranquiçados? Quando eu morrer serei apenas um montinho de cinzas e posso garantir que até chegar a esse ponto, o conjunto da obra será bem mais desagradável do que o atual.
Confesso que não vou à praia, mas não por causa do meu corpo fora do padrão Bündechen/Melancia, e sim porque não gosto do tumulto dos vendedores ambulantes, do pessoal que joga futvôlei e frescobol sem se preocupar com quem está ao lado, não gosto da correria das crianças que ora te jogam areia, ora te jogam água. Fui talhada para a piscina, com sua água clorada e transparente, para uma confortável espreguiçadeira, para o chão de ardósia.
Quanto ao quesito homem, aprendi que os sarados são só para o prazer visual. Atualmente prefiro os normais, de preferência que já tenham aquela barriguinha (eu disse BARRIGUINHA e não gravidez!). A razão é simples: homens muito bonitos tipo Cauã Raymond geralmente só olham para Grazis Massaferas, da mesma forma os de academia só querem as “malhadas”; logo se você não pertence a nenhum desses grupos, escolha alguém que também tenha “telhado de vidro”, pois se ele não estiver em forma, não poderá exigir que você esteja! Bingo! Homens realmente inteligentes não ligam para essas imperfeições estéticas de suas parceiras, porque sabem que o que conta é o prazer que elas lhes proporcionam e isso independe de celulite, estria, etc. O que importa se o seio não está empinado, se quando ele é tocado o mamilo se excita? A mulher tem culote. E daí? Não é ele que produz o orgasmo.
Não estou fazendo apologia ao desleixo! Temos que cuidar do nosso corpo, uma vez que dependemos dele para viver, mas não precisamos entrar na ditadura da forma que nos é imposta. Se você não está satisfeita com seu peso atual, faça uma dieta; se o seu cabelo está te dando muita tristeza, transforme-o; se sua pele está sem viço, hidrate-a. Cuide de suas unhas, perfume-se, renove seu guarda-roupa com roupas que te deixem mais bonita sem abrir mão do conforto e do seu estilo. Não use um jeans cintura baixa que te deixa com pneuzinhos só porque está na moda, prefira um belo vestido longo estampado, solto. Se você tem belos seios, valorize-os com um decote, mas não exagere para não ficar vulgar; se as suas pernas são bonitas, coloque um short e uma sandália. Talvez seu rosto seja seu ponto forte, então aprenda novos truques de maquiagem para realçá-lo; ou quem sabe seu cabelo é de dar inveja, então chame a atenção para ele. Busque em primeiro lugar o seu bem estar e sua auto-estima automaticamente subirá. Mostre ao mundo o que você tem de melhor: você mesma!

domingo, 8 de novembro de 2009

A Libertina (Trecho)


A vida estava absolutamente normal. Todos os dias Paola fazia quase as mesmas coisas: acordava, tomava um banho, bebia sua xícara de café com pão integral e um pedaço de queijo branco, lavava a louça, vestia uma roupa, se maquiava, passava uma escova nos cabelos curtos, pegava sua bolsa e ia para o metrô a caminho do trabalho. Parecia até música do Chico Buarque. A única variação nessa rotina era a atividade que exercia dentro do vagão: se estivesse sentada lia o jornal ou um livro, se estivesse em pé ouvia as músicas do seu i-pod. Raramente se apercebia das pessoas ao seu redor; olhava todos os rostos, mas não se fixava em nenhum e procurava evitar ao máximo quaisquer tentativas de conversa, usando seus óculos escuros mais como um escudo do que como proteção contra a luz.
Essa manhã não parecia diferente das outras, não fosse pelo vagão quase vazio, poderia dizer que estava na manhã passada. Sentou-se perto da janela que dava para a escuridão, retirou seu Saramago de dentro da enorme bolsa e, sem separar-se do seu indefectível óculos escuros, mergulhou no Don Giovani ou O dissoluto absolvido. Poucas vezes durante o trajeto parava a leitura para ver quem entrava na composição, todos desinteressantes, indignos de mais do que dois segundos de observação. Não que se achasse melhor do que o resto da humanidade, mas estava em uma fase da sua vida na qual não achava ninguém interessante o suficiente para mobilizar suas energias.

Era o efeito colateral de mais um relacionamento fracassado, mais um que tinha ido pelo ralo como água suja. Começou tão promissor...Ele era um cara legal, simpático, inteligente, charmoso, tinha até seus momentos de beleza física, bom de cama, quase perfeito não fosse o ciúme cretino! Desde o início Paola tinha avisado a Caio que não exigia fidelidade e sim lealdade do parceiro, logo se não fazia tal exigência também não admitia que lhe cobrassem fidelidade, certo? Ele, por sua vez, disse que não dava conta de tantas contradições; uma mulher que quer compromisso, mas que ao mesmo tempo não quer perder a liberdade; uma mulher que não sente ciúmes, mas que exige total atenção; que gosta de ficar em casa, mas adora uma balada com os amigos e por aí vai.
Paola detestava essa mediocridade de Caio, essa limitação de ideias, essa mentalidade mono, nunca plural; ele não conseguia entender que um ser humano pode ser vários, era somente uma questão de circunstancialidade. Ela era uma mulher antenada, liberal, aberta ao novo, flexível, isso era da sua natureza e, ainda que não fosse, o seu entorno a faria assim. Sendo publicitária, estava imersa nesse mundo “descolado”, seus colegas de profissão eram pessoas com a mente receptiva a novos conceitos e valores, condição sine qua non para a criatividade.
Enquanto refletia sobre alguns aspectos de seu último relacionamento, se deu conta de que seus olhos se haviam fixado em uma pessoa dentro do vagão, uma mulher que estava sentada na diagonal oposta. Era jovem, cabelos cacheados e avermelhados, pele clara, traços regulares, seios fartos e pernas longas. Poder-se-ia dizer que era atraente, ainda que possuísse uma beleza comum, dessas que se veem pelas ruas. Por que seu olhar tinha ido parar ali? A mulher vestia-se com discrição e sua atitude não chamava a atenção de nenhum homem. Talvez fosse vício da profissão e do seu hobby: a fotografia. Por conta dela aprendera a reconhecer a beleza oculta de objetos, paisagens e pessoas. Um de seus ex-namorados era fotógrafo e tinha lhe ensinado todos os truques dessa arte. Empolgada, Paola comprou uma câmera e saiu clicando tudo ao seu redor. Até que um dia resolveu arquivar as imagens no computador do seu “ex” para liberar a memória da máquina fotográfica e enviá-las para o seu computador por e-mail mais tarde e encontrou uma pasta repleta de fotos pornográficas; passou uma boa parte da madrugada e do sono do seu companheiro vendo aquelas fotografias. Desde então passou a especializar-se em nu artístico.
Nesse momento a composição parou na sua estação. Notou que a mulher se preparou para desembarcar, mas como havia muita gente perdeu-a na multidão que tomou a plataforma. Sendo levada pelo fluxo que buscava a luz do sol, voltou seus pensamentos para a reunião que estava marcada para daqui a meia hora e esqueceu-se da ruiva que captou sua atenção no metrô. Caminhou vigorosamente até a agência, o salto da sandália martelando a calçada. Cumprimentou o porteiro do edifício e se dirigiu para a fila dos elevadores. Qual não foi sua surpresa, depois de ser espremida no fundo do elevador, ao ver a “mulher do metrô” entrando calmamente, segurando um copo descartável de café expresso em uma das mãos, uma barra de cereal na outra, um portfolio pendurado no antebraço esquerdo e uma bolsona marrom no ombro direito. Era até engraçado, parecia um polvo e, ao mesmo tempo, a graciosidade parecia a de uma deusa hindu. Desceram no mesmo andar. Aí já era coincidência demais! Se encaminharam para a mesma porta e finalmente a mulher olhou para Paola; seus olhos eram de um verde quase dourado, deu um meio sorriso e disse:
— Desculpe, sou meio atrapalhada. Será que você poderia abrir para mim?
— Claro – respondeu Paola. – Você veio para a reunião da Storm Kline?
— Isso! Meu nome é Eduarda, Maria Eduarda Silveira.
— Ah, oi! Eu sou Paola Chiavenatto. Nós não falamos na semana passada sobre a escolha do elenco da peça publicitária?
— Exato! Eu sabia que a sua voz e o seu nome me eram familiares.
Foram caminhando pelos corredores da agência.
— Ainda temos quinze minutos. Não quer conversar um pouco na minha sala? Assim você pode terminar o seu café e eu posso fumar um cigarro antes da reunião. – convidou Paola.
— Perfeito.
A sala era pequena, mas bem equipada e confortável. Notebook, multifuncional, DVD, uma tela de plasma na parede, algumas reproduções do Central Park e do Tâmisa, um quadro do Romero Britto sobre uma parede lilás; uma bergère listrada próxima à janela, uma mesa de vidro onde ficava toda a parafernália eletrônica de Paola e um retrato de Caio, um cadeira tipo diretor bem acolchoada e duas cadeiras com estrutura em inox do outro lado da mesa completavam o ambiente. Acomodaram-se. Paola pegou o telefone e pediu que Lena, a secretária, trouxesse a pasta da Storm Kline.
— Aceita? – perguntou Paola oferecendo um cigarro.
— Não, obrigada.
— Você não fuma?
— Fumo, mas não vai dar tempo agora e eu detesto fumar correndo.
— Tem razão, eu também não gosto, mas esse vício já faz parte da minha rotina. E empestear o ambiente é meu esporte predileto, como diz a Leninha, minha secretária. – respondeu rindo.
— Bem-vinda ao clube dos fumantes incompreendidos. – disse Eduarda.
Lena entrou no mesmo instante que o telefone tocou. Colocou a pasta sobre a mesa e ficou esperando Paola atender a ligação. Paola fez um sinal de positivo com o polegar e Lena saiu da sala.
— Oi Raul! Já cheguei e estou com a representante da Storm aqui na minha sala. Certo. Hum, hum. Ok, sala de reuniões em cinco segundos.
— Vamos, Eduarda?
— Vamos.
A reunião transcorreu animada e descontraída. As partes, anunciante e agência, se entenderam muito bem. Algumas ideias foram rejeitadas e outras aprimoradas. Foram analisados vários books, storyboards, textos. Todos os detalhes das peças na TV e na mídia impressa foram alinhavados, ficando para uma outra reunião apenas as peças dos outdoors. Já estavam próximos da hora do almoço.

— Você tem algum compromisso agora? – perguntou Paola.
— Não. Tava pensando em procurar algum lugar para almoçar.
— Ótimo. Que tal almoçarmos juntas? Tem um restaurante bem legal aqui perto e a comida é uma delícia.
— Perfeito. Você é um anjo porque eu não conheço quase nada aqui no Rio e até que encontrasse um lugar para comer já iria jantar!
— Exagero, vai? Tem um Mc Donald’s aqui na esquina.
Riram muito. Pegaram suas bolsas e saíram. Caminharam por duas quadras e entraram no restaurante. Fizeram seus pedidos:
— Boa tarde, Andrade! – Paola cumprimentou o garçom. – Hoje tem aquele salmão grelhado com Ceasar salad que eu adoro?
— Tem sim, Dona Paola. E tá caprichado!
— Beleza! É isso e um suco de laranja sem açúcar e sem gelo, ok?
Virou o rosto na direção de Eduarda e perguntou:
— E você, já escolheu?
— Acho que vou querer um fettuccine aos quatro queijos e uma Coca diet, por favor.
— Copo com gelo e limão? – indagou o garçom.
— Sim. Obrigada.
Paola não pôde conter uma risada. Era surreal a combinação que Eduarda tinha feito, uma massa altamente calórica com uma bebida de baixa caloria. E ela nem era gorda, muito pelo contrário, tinha um corpo perfeito...
— Que foi? Do que você está rindo? – inquiriu Eduarda.
— Da sua combinação gastronômica. Parece coisa de gordo desesperado!
— É para a consciência não ficar tão pesada.
— Imagina! Você está ótima, não precisa de nenhuma dieta, Eduarda.
— Pode me chamar de Duda. E uma mulher sempre precisa de dieta até quando não precisa.
— Fala sério, Duda! Onde você acha que precisa melhorar? Seu corpo é um show!
— Como você sabe que meu corpo é um show?
— Eu tenho olho clínico. Sou fotógrafa nas horas vagas.
— Fotógrafa? Que legal, eu adoro fotografia. E o que você gosta de fotografar? Paisagens?
— Não, pessoas.
— Ah, tipo fotografia de moda, essas coisas?

— Não, tipo Playboy e G Magazine mesmo.
— Sééério??? – Eduarda quase gritou de tão constrangida e nervosa.
— Desculpe. Te choquei, não foi? Às vezes eu esqueço que nem todo mundo encara esse tipo de fotografia com a mesma naturalidade que eu.
— Não, não, não é isso. É que eu nunca tinha conhecido ninguém que trabalhasse com essa área. Pra te dizer a verdade, eu adorei saber!
— Agora é a minha vez de te dizer: Sério? – indagou Paola meio desconfiada.
— De verdade. Você se importaria de mostrar seu trabalho? Se não for muito invasivo, claro.
— Eu não me importo, tudo bem. Mas quanto tempo você vai ficar no Rio?
— Uma semana.
Continuaram conversando. Já tinham ultrapassado, e muito, o tempo do cafezinho. Pediram a conta, que Paola fez questão de pagar, e trocaram telefones.
— Se você precisar de alguma coisa aqui no Rio pode me telefonar, tá?
— Obrigada, Paola.
Na calçada se despediram. Eduarda pegou um táxi para o hotel e Paola voltou para a agência, onde uma pilha de papéis a esperavam, ansiosos por uma análise e uma canetada. O dia ia transcorrendo sem sobressaltos. Quase na hora de ir embora o telefone tocou. Era Caio convidando-a para um chopp. A princípio Paola tentou se desvencilhar da situação, mas acabou cedendo, contanto que tomassem um vinho em sua casa, pois estava cansada demais para se produzir para um encontro, por mais previsível que este fosse. Caio topou e combinaram às 21:00h. Paola faria um risoto, desses de pacote que vendem no supermercado, e Caio fez questão de levar o vinho tinto.
Na hora combinada a campainha do apartamento soou. A mesa já estava arrumada; Paola de banho tomado, cabelos ainda molhados caindo no rosto, usava um vestido solto de alcinha e sandálias de salto médio. Tinha passado um lápis nos olhos, rímel e um gloss, só para não ficar com cara de quem havia voltado da guerra. Na pele, o suave aroma do hidratante corporal que usou depois do banho. Abriu a porta e viu Caio todo arrumado, perfumado, com uma garrafa de vinho e um buquê de rosas nas mãos e aquele sorriso mal-intencionado pendurado no rosto. Na mesma hora se arrependeu por ter aceitado a visita e teve certeza de que teria trabalho naquela noite. Jantaram e foram terminar a garrafa de vinho no sofá.
— Olha Caio, você me conhece bem, então eu vou direto ao ponto: as flores são lindas, o vinho está ótimo e o que você pretende com isso?
— Ah, Paola, eu acho que nem preciso dizer...
— Meu bem, você sabe que nós vivemos a vida de modos distintos, temos posições antagônicas; você é conservador e eu sou muito “porra louca”. A gente já sabe onde isso vai dar.
— Mas Paola eu...
— Espera, deixa eu terminar. Lembra do dia em que eu te propus irmos a um clube de suingue? Você quase se jogou pela janela de tão chocado! Eu posso até rever a cena: você ficou branco de susto, vermelho de vergonha, roxo de raiva e verde de nojo, só faltou desmaiar... parecia uma donzela.
— Peraí, você está duvidando da minha masculinidade???
— Claro que não! Aliás, essa é a última coisa que eu posso duvidar nesse mundo. Você é gostoso pra caramba. Só de estar aqui, te olhando e ouvindo a sua voz, eu já ensopei a calcinha. Meu corpo está
gritando: Caio! Caio! Caio!
— Então Paola...
— Nossa, eu adoro sexo, você sabe. Quando eu fico mais de uma semana sem transar, meus hormônios se rebelam e fazem um motim; eu fico intratável. Tudo bem, eu me masturbo; mas preciso sentir um pau na minha boceta, uma língua me lambendo... Só que não é só isso, entende? Eu quero um parceiro pra tudo. Olha só o jeito que você está me olhando...isso só por conta do meu vocabulário!
— Paola, escuta. Eu pensei muito no que você me disse no nosso último encontro e decidi que quero mudar.
— Maravilha, vai em frente!
— Mas eu preciso de você. Me ajuda, por favor. Eu não quero te perder.
— Ai, Caio... Sei lá...
Caio retirou a taça da mão de Paola e colocou-a sobre a mesa de centro. Aproximou-se e beijou-lhe o rosto, o pescoço e finalmente a boca. Paola, que já estava sob o efeito de vinho e de toda a sua carência sexual, entregou-se. Reclinando Caio no sofá, montou sobre ele e retirou o vestido. Estava só com uma minúscula calcinha de renda e os mamilos excitados. Caio massageava seus seios e os sugava avidamente enquanto Paola desafivelava o cinto da calça. As mãos de ambos se encontravam e se separavam para percorrer o corpo do outro e despí-lo; Caio, desesperado de desejo, rasgou a calcinha de Paola com um puxão, o que a deixou mais excitada ainda. Depois de livrar o corpo de Caio da última peça de roupa, Paola pegou o pau duro do amante e esfregou-o na entrada molhada de sua vagina, que foi engolindo aquele sexo lentamente, em movimentos ritmados, como uma cobra engolindo sua presa. Caio puxava Paola para si como se quisesse fundir-se a ela, como se quisesse alcançar o inalcançável; se contorcia e lutava para segurar o gozo, que estava prestes a explodir. Percebendo o momento, Paola sentiu o frêmito do seu orgasmo se aproximando, as ondas elétricas se espalhavam no seu sexo, acelerou o galope e cravou as unhas na carne de Caio. Este, sentindo a dor misturada ao prazer, não teve mais como resistir e lançou seu gôzo dentro daquela boceta maravilhosa que vibrava ao sabor dos espasmos de seu próprio orgasmo. Ofegante, Paola deitou sobre o peito de Caio e assim ficaram, sentindo coração um do outro, respirando no mesmo compasso, os sexos ainda unidos e úmidos.
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