domingo, 5 de setembro de 2010

A Libertina (continuação)

Paola comunicou o evento a Caio, que a princípio protestou, mas como sempre acabou cedendo. No dia marcado, por uma incrível coincidência, ele e Duda chegaram ao mesmo tempo. Paola não pode conter um riso nervoso, pois esperava poder preparar o terreno com Caio antes; bem agora era enfrentar o que viesse...
— Oi, gente! Se vocês tivessem combinado, não teriam sido mais pontuais, hein?
— Pois é – respondeu Duda –, aconteceu a mesma coisa com a gente, não foi?
— Verdade... mas vocês já se conheceram? – perguntou Paola.
— Ainda não. Viemos em elevadores diferentes. – respondeu Caio.
— Então, entrem que eu vou fazer as devidas apresentações!
Paola os apresentou e acomodaram-se na sala que ela havia preparado para a ocasião. Os livros de arte e fotografia da mesa central deram lugar a várias tábuas de queijos, frutas, torradinhas com pastas e alguns potinhos de molho e balde com gelo e vinho com suas taças. No chão, ao redor da mesa, sobre o tapete felpudo e macio, estavam dispostos vários almofadões que davam a impressão de um jantar oriental. Paola orgulhou-se da decoração simples e aconchegante que iria proporcionar um confortável cenário para apreciação das fotos na sua parafernália high tech. Queria que seus convidados se sentissem totalmente à vontade.
— Amor, abre o vinho pra gente enquanto eu coloco uma música?
— Ok. Qual eu abro primeiro: o branco ou o tinto?
— Peraí. Duda prefere abrir os trabalhos com tinto ou branco?
— Ai, gente, sei lá! Você tá oferecendo uma variedade tão grande de queijos, que o que a gente abrir primeiro vai dar certo. – respondeu Eduarda.
— Ah, vocês mulheres são muito indecisas, hein? Vou abrir os dois!
E assim a noite foi transcorrendo agradavelmente, com um bom papo, regado a vinho e música para descontrair. O álcool aos poucos fazendo seu trabalho, correndo nas veias e aquecendo os corpos.
— Paola, sei que isso é uma tremenda falta de educação, nós nos conhecemos noutro dia, mas você se incomoda se eu tirar o sapato? Meus pés estão me matando... – perguntou Duda, constrangida.
— Pelo amor de Deus, Duda, ninguém aqui vai querer que você tenha uma gangrena! Tira logo essa sandália! Pode colocar os pés no sofá, deitar no chão... Fique à vontade. – respondeu a anfitriã. – Olha só o Caio, já tirou sapato, blazer...
— Ah, mas vocês se conhecem há mais tempo.
— Ih, relaxa Duda! Até eu vou trocar de roupa porque esse pulôver e o vinho estão me dando o maior calor.
— Por falar em conhecimentos, me diga como você e a Paola se conheceram? – indagou Caio enquanto Paola foi se trocar.
Duda explicou como foi o seu encontro e em alguns minutos ambos já estavam mais confortáveis na presença um do outro. Paola voltou vestindo um chemise branco, de algodão, na altura dos joelhos. Sentou-se numa poltrona giratória, para entrar na conversa e se serviu de outra taça de vinho tinto.
— Acho que já podemos começar a nossa exibição de gala. – comentou Paola. — Senão daqui a pouco estaremos bêbados.
— Concordo, eu já estou meio zonza, meio alegrinha... – respondeu Duda, entre risos.
— Também estou de acordo. – aderiu Caio.
— Concorda?! Com o quê? Eu não estou de porre, ainda... Quer ver? Vou fazer o quatro!
Duda levantou-se e tentou a famosa posição, mas se desequilibrou e caiu no colo de Caio. Todos caíram na risada. Paola se levantou e foi ligar o data show e o telão, sem se incomodar com o fato de que Duda e Caio ainda estavam embolados no sofá, rindo.
— Posso começar?
— Claro, deixa só eu me levantar daqui. – disse Duda.
— Vem, segura a minha mão que eu te ajudo. – ofereceu Paola que estava em pé, de frente para eles.
Paola segurou a mão de Duda com a mão esquerda, enquanto segurava a taça de vinho com a direita, mas tropeçou no pé de Caio e, ao perder também o equilíbrio, derramou a bebida sobre a roupa.
— Cacete! Acabei de trocar de roupa! Não vou mudar de novo.
— Passa essa pedra de gelo pra não ficar com mancha. – aconselhou Caio.
Aceitou a dica e apertou o play do controle remoto. A apresentação das fotos surgiu na tela branca, em uma lenta transição de slides, que proporcionava uma boa observação dos detalhes... Tudo transcorria como o previsto, com todos fazendo suas observações, acanhadas a priori. Paola se divertia com a vergonha de Caio e se deliciava com a desinibição crescente de Duda, que a essa altura já estava deitada sobre os almofadões, meio descomposta.
— Nossa!!!! Quem é esse modelo bem-dotado??? – perguntou Duda.
— Não sei, deixa eu ver o próximo slide – fingiu Paola – Quem sabe eu consigo identificar.
— Ih, Caio, eu acho que é você! – disse Paola maliciosamente.
— Uau, hein? Olhando assim... – respondeu Duda olhando-o descaradamente – eu nem imaginaria.
— Olha só, Paola, que sacanagem é essa?? Você não me disse que eu estaria nessa mostra!! Você não tem esse direito, me expôr assim, na frente de uma pessoa estranha! Eu fiz essas fotos pra você porque eu te amo, porra!
— Calma, Caio! Pra quê esse discurso todo? Você não precisa ficar constrangido, tá lindo, gostoso. E se você quer saber, eu também estou aí, nua em pelo e sem a menor vergonha, tá? Estamos todos!
— Gostoso ele está mesmo, Paola, mas essa conversa de 'estamos todos' não é verdade! Eu não estou e ainda não vi suas fotos, tá? – protestou Duda.
— Quer posar?
— O que que é isso??? Você vai fotografar a Duda sem roupa aqui na sala? Agora???
— Ué, e por que não? Você topa? – dirigiu-se à Duda.
— Só depois de ver as suas fotos.
— Ah, não! Eu não vou ficar aqui para assistir essa baixaria. – disse Caio já se levantando para ir embora.
— Você pode até ir, se quiser, mas lembre-se do que conversamos. Você disse que queria mudar e pediu a minha ajuda. Eu não vou te dar outra chance.
— Pelo amor de Deus! Eu nem a conheço direito e ela vai se despir na minha frente.