Na crônica anterior eu enveredei para um tom político que não era minha intenção inicial, mas foi aflorando durante a escrita e eu deixei fluir, mas o que eu queria mesmo era dizer como essa data tem me afetado de modo estranho ultimamente.
Quando eu era criança, o Natal era um dia esperado com ansiedade, eu perturbava minha mãe para saber se já era o dia do Papai Noel, queria tirar foto com o bom velhinho, comprava gorrinho e tudo! Me deliciava com os desenhos animados temáticos do Zé Colméia, Pica Pau, Tom & Jerry, Pantera Cor-de-Rosa, Mickey & Donald, Os Flintstones, etc. Assistia aos filmes na sessão da tarde e ficava torcendo para chegar logo o dia 24 de dezembro, me perguntando por que aqui não nevava como nos filmes.
Já na adolescência, depois de algumas perdas de pessoas muito importantes na minha vida, como meu pai, o Natal foi perdendo um pouco do sabor, do encanto... Passei a comemorar a data longe do RJ. Fiz novas amizades, me acostumei com muita gente ao meu redor e voltei a curtir as festas de final de ano. Minhas energias se voltavam para os preparativos da viagem, para a compra de presentes para amigos e familiares e assim fui resgatando a felicidade e o espírito natalino.
De uns anos pra cá a antiga melancolia tem recuperado seu espaço perdido, pois tenho sofrido, ano após ano, decepções amorosas que, não sei por qual motivo, escolhem o fim do ano para dar o golpe de misericórdia. Sei, sei que revezes amorosos acontecem com todo mundo, a todo minuto no planeta, eu não sou a única, mas convenhamos que na época do Natal parece até perseguição dos deuses.
Esse ano então foi de lascar! Depois de me desvencilhar de um sentimento neurótico e sem futuro algum, me envolvi com um homem que eu já conhecia há algum tempo e que eu achava (e ainda acho) maravilhoso. Por ele ter dez anos a mais do que eu, pensei que finalmente havia encontrado um relacionamento maduro; parecia promissor, apesar de ele estar enfrentando uma separação traumática. Tudo bem, podem me chamar de idiota com i maiúsculo, podem dizer que até cego poderia ver que isso não ia dar certo!!!
Quem me conhece bem sabe que eu não sou mulher de ficar sentada esperando que o destino se encarregue de tudo e que tomo a iniciativa se quero alguém. Como já o conhecia há muitos anos, não vi problema em dar o primeiro passo, mesmo porque ele é muito tímido. É claro que eu não tomaria nenhuma atitude se ele não deixasse pistas indicando que também estava interessado: frases picantes, toques mais prolongados, abraços mais apertados, tons confidenciais... até o número do celular ele liberou. Se isso não sinalizar um mínimo de interesse, eu não sei mais o que sinaliza! Trocamos mensagens carinhosas, saímos, nos falávamos todos os dias e justamente quando eu já estava atingindo um nível de felicidade admirável com tanta atenção e desejo que iria culminar com a alegria do Natal, eis que um raio se abate dos céus sobre mim e incinera tudo até não restar mais do que cinzas! Pronto, lá se foi meu espírito natalino pelo ralo, pois eu duvido que qualquer mulher no meu lugar não se deixasse abater por essa brincadeira de mau gosto de Eros.
E aqui estou eu, em pleno dia 25, sentada em frente ao computador, escrevendo minhas mágoas, tentando iniciar uma sessão de análise virtual antes de partir definitivamente para o divã de um analista em 2010, deprimida, mal humorada, sem a menor vontade de me deixar envolver pelo amor que a data suscita, achando que o mundo é uma droga, que Deus me odeia, me entupindo de panetone com sorvete e afogando a tristeza num prato de rabanadas.
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